O teto branco - 9
Continua... Para acompanhar o fluxo da ideia leia também os capítulos anteriores
Existe algo bom todos os dias
Mudanças são necessárias. Depois de cinco anos morando afastada da capital, mudei-me para outro apartamento, maior, mais arejado, com vista para o Pico do Jaraguá, no bairro do Butantã, onde passei parte de minha infância. O teto branco veio comigo, ele e eu nos acolhemos agora num espaço maior. Quanta coisa ele me viu passar na morada anterior. Ele não se cansa de mim. Eu me acostumei com a sua companhia. Penso que nossa simbólica relação é de amor. Ele não deixa eu me perder. Está presente em meus choros, em minhas risadas, nas coisas de amor, nas insistentes tentativas de realizar objetivos e sonhos, nas conquistas, nos agradecimentos. Ele está comigo sempre. Não, eu não sou tola. As coisas do amor ninguém pode explicar. Nós dois somos espécie rara de amor. Não somos um casal, não somos uma família, mas somos únicos. Estamos juntos por sintonia, a vida nos escolheu, é, a vida fez cruzar nossos caminhos para eu não sofrer de agonia sozinha. Ele me dá calma e coragem, me enxerga, me tira do tédio, me enche a vida de poesia.
Sei que tudo caminha como tem que ser; nada é por acaso no processo evolutivo humano. Na vida, a melhor maneira de aprender é fazendo, “arregaçando as mangas, botando a mão na massa”. Algumas circunstâncias exigem mais da gente, até renunciar algo para que nossos semelhantes, dentro do processo evolutivo de cada um, possam: crescer, desenvolver, amadurecer, mesmo que não faça sentido na hora. Mas com o tempo. Ah, o tempo! Sempre determinando os acontecimentos... Com o passar de dias, meses, anos, tudo dentro e fora de nós vai acomodando. A vida vai direcionando os caminhos, aliviando as emoções, os traumas e dramas. Com relação à “morte”, ir e vir faz parte do processo evolutivo da nossa espécie. Contudo, cada um de nós lida de maneira diferente, com os seus recursos, desenvolvidos, adquiridos, independente de idade. Cada um está onde tem que estar no seu degrau, no seu nível de aprendizado. Na verdade somos todos frágeis diante da “morte”. Todos nós temos medo dela. Do ponto de vista, viver a vida, todos somos aprendizes nesse planeta Terra. Somos interligados. Somos interdependentes, mesmo sem o nosso querer. Diante disso, não saber para onde retornamos é assustador. Por essa razão, provavelmente, muitos se apavorem diante do mistério, do oculto, do inalcançável. Todos nós tememos ir para outra dimensão. Por não saber para onde vamos, perguntamos como será lá? Como na vinda para cá, certamente ocorre o mesmo. Temos receio do mundo novo, do inesperado, daquilo que não temos domínio. Quando saímos do confortável ventre materno, do canto quentinho protetor de nossa mãe, o que será de nós depois? Como será nossa vida? Com quem vamos aprender a viver? Alguns seres humanos têm esse despertar de consciência e cedo compreendem que tudo no Universo é bem feito, é perfeito. Que é maravilhoso vir ver a vida... Somos abençoados por estar transitoriamente aqui.
*Trecho de "O teto branco", autopublicação de minha autoria