Homens do meu tempo
Moleques travessos, de mentes buliçosas. Correm, desembestados, com o vento. Querem uma bola, de capotão ou de gude, pra brincar. Querem consorciar com o vento, esmerando nas pipas com suas rabiolas coloridas. Quando brincam com elas, não tiram os olhos do céu e de seus papagaios. Jogam-se no rio, nus, sem pudor algum. Nadam, dão piruetas nos barrancos, desafiando a gravidade. Quando fazem amigos, são fiéis e leais, como cães com seus donos. Brigam pelo poder no bando ou por causa de uma menina. Às vezes, são mais bicho que gente, impiedosos e calculistas. Às vezes, são mais frágeis do que as meninas, escondidos em couraças protetoras e salvadoras de sua emoção. Na escola, são inquietos, espertos e também desatentos... uma saia curta os tiram do ar, ficam sem ar... um colo bonito os deixam vidrados e os transportam para muito além da sala de aula. Sonham amar até a exaustão, culpa da testosterona! Quando se apaixonam, não querem outra coisa na vida, só ficar por perto, se possível coladinho. Querem passear de mãos dadas e querem mãos passeando também. Querem a menina, mesmo se tiverem de ir ao cinema ou à missa, ou a uma festinha chata para tê-la em seus braços. Querem braços, pernas e amassos. Querem ver pelas costas as amigas de suas meninas, enquanto está tudo bem com a namorada. Se o namoro desandar, a amiga pode lhe ajudar a reconquistar seu bem. Ou não... A amiga, se for bonita, pode ser a próxima namorada. Quando já tiver barba cerrada e um caminhão, ou uma loja, ou uma enxada, ou um monte de livros, ou uma mala de mascate e, também, uma donzela, a capela é chegada a hora. Terno, flor na lapela e o amor jurado no altar, benzido pelo padre. A noiva está bonita demais, apesar de tanta roupa! E lá vai ele, com a coragem e a responsabilidade de começar uma família. Trabalho duro, às vezes de dia e de noite. Dinheiro juntado para comprar um bangalô, uma casinha ou uma casona. Suor, trabalho, e sacrifício. Filhos... Amor, alegria e dor. Netos... esses são filhos com açúcar! Cabelos brancos, pensamentos coloridos. Só a foto do passado é preto e branco. Porque os homens são eternamente coloridos no seu modo de ver a vida!