Nonagésimo oitavo dia

"A quarentena de um poeta"

Nonagésimo oitavo dia:

O domingo de praia em Miami recebera o fugitivo oficial que chegara no dia anterior do país que completava mais de um milhão de infectados e cinquenta mil mortes, o que significara que milhares de brasileiros choravam pelas partidas de seus entes queridos.

Ao se despedir do chefe mor, ele fora o protagonista de uma cena inusitada ao pedir-lhe um abraço parceiro que fora tão forçado que indicara o nível baixíssimo de ocitocina nos organismos de ambos personagens, tal fora o cariz do comandante.

Entretanto, a sua entrada no solo americano não poderia ter sido realizada devido ao seu compromisso com a cidade satélite. A sua estratégia de voar com carteirinha diplomática poderia lhe valer a indicação do novo emprego e uma possível deportação. Aquilo seria a recompensa para quem após entregar a sua defesa ao intimador tanto socou o peito a soltar caminhões de gotas nos seus seguidores que o carregaram nos braços.

Na terra onde Al Capone bateu as botas, ele não poderia soltar seus gritos chulos, pois não existia perdão para latinos. Seria o mundo dando a volta muito rápida para punir aquele que respondia pelo crime de racismo.

A sua ida a Washington para assumir o cargo de alto escalão estava sendo questionada pelos integrantes do seu novo ofício que a considerava inadequada.

Ele sentiria na pele as ações preconceituosas de uma sociedade xenofóbica que odeia os latinos e deixam as sinagogas vulneráveis para possíveis ataques antissemistas.

Existia ainda uma grande contradição da organização mundial que apoia iniciativas voltadas a redução da pobreza e proteção do meio ambiente aceitar um profissional que fora conivente com as declarações do administrador da economia de seu país a bobageirar as seguintes mensagens:

"O pior inimigo do meio ambiente é a pobreza"

"Destroem porque estão com fome".

A fuga oficial

O mérito foi para o covarde

O inquérito não o empata

Ele voa em liberdade

Com passaporte de diplomata

Pousa no berço do capital

Onde há uber de iates

Longe daquele tribunal

Que julga seus disparates

Mas o tiro sai pela culatra

Ou lhe acerta no pé

E o sonho do catra

É levado pela maré

Sua volta é uma incógnita

Pois fugiu oficialmente

É o perfil do hipócrita

Que se associou ao presidente

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 21/06/2020
Reeditado em 21/06/2020
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