cores
Como o homem parecia verde,
Pegaram-no e puseram-no na caixa verde.
Era verde, por certo...
(Embora por vezes parecesse cinza
Noutras azul.
Imprecisões que tinham de ser irrelevantes).
Mas tantos diferentes verdes clamavam subclasses.
E como o homem parecesse mais para verde musgo
Pegaram-no e puseram-no na caixa verde musgo.
As caixas eram caixas, não parques ou praças.
E não eram tão grandes que se pudesse nelas dançar ou andar.
Nem nadar ou sonhar:
Na verdade, requeriam algum encolhimento
Alguma retração, uma contenção toda.
Mas a taxinomia tinha que avançar.
E viu-se que o musgo do homem verde musgo não era qualquer musgo:
era o musgo tropical das matas do sudeste.
E então ele foi posto na caixa verde musgo tropical das matas do sudeste.
Como já fossem muitos os nomes de tantas cores das pessoas
E as classificações tivessem de ser precisas
Um comitê qualquer (mas correto) resolveu trocar tudo por letras
E o homem foi removido e depositado na caixa 'vmtmse'.
O que, para ele, nada mudou, já que a caixa continuava a não ser parque
Nem praça, nem permitir dançar ou passear.
Passados alguns tantos anos
Ninguém mais lembrava de onde vinha a sigla 'vmtmse'.
E também não importava. Na verdade, o homem era o único 'vmtmse'.
E, com o tempo, ele oscilava não só para o cinza e o azul
Mas para o vermelho, um violeta estranho, mostarda, laranja, roxo
Amarelo sol, amarelo ouro, amarelo ouro antigo, canário.
O que já também nada importava:
Ele estava contido, encolhido, literalmente encaixado.
E era apenas um 'vmtmse'.