Quando era pequena
(Para meus cinquenta anos - 21/06/2020)
(Para meus cinquenta anos - 21/06/2020)
Quando era pequena, tudo a minha volta parecia tão grande, a começar pelo quintal de casa, a cerca demarcava o universo a ser explorado, as flores enfeitavam o dia com o colorido especial, as hortaliças eram visitadas costumeiramente, como se estivesse fazendo compras num grande supermercado, assim definia o cardápio das bonecas... se uma sopinha de agrião, salada de couve ou quem sabe alface ou almeirão picadinhos.
Passei horas sonhando à sombra do pé de jasmim, certa vez fiz uma piscina para as bonecas e tive o cuidado de forrar com plástico para não mergulhar as beldades num rio de lama, também tive o cuidado de não aprofundar a escavação, pois acreditava ser possível alguns chinesinhos escaparem pela abertura.
Imaginação não faltava para quem tinha à disposição, todas as manhãs, um quintal de terra batida e todo tempo do mundo pela frente. Hoje, lembro com saudade das mexericas tiradas no pé, da laranja lima que papai dizia ser a melhor e do pé de limão que mamãe dizia ser mais velho que eu, e foi numa tarde chuvosa que fiquei na janela, observando se iria resistir à força das águas, e depois do trovão e sem as raízes, já desgastadas pelo tempo, o estrondo maior se deu.
O limoeiro se despediu deixando a vista livre para a menina perceber que o universo era ainda maior que o seu quintal, foi a partir daquele dia, pós morte do limoeiro que começou a vislumbrar a vida além dos limites geográficos do quintal, o pé de limão foi um divisor de águas, quando nasceu ele estava presente, imponente com sua copa gigante, foi companheiro e sua despedida repleta de simbolismo, mamãe recolheu o tronco absolutamente oco e limpou tudo, sem que uma palavra fosse mencionada, era de fato, a primeira experiência envolvendo uma grande perda, no meio do quintal o vazio era imenso, uma tristeza que jamais encontraria explicação.
Tudo era menor, muito menor do que havia notado desde então, foi quando dei-me conta que estava crescendo, o quintal não mais era tão atraente, meus olhos voltaram-se para outros horizontes, hoje, ao completar meio século de história lembrei do limoeiro e entendo que foi ali que comecei a crescer.
Passei horas sonhando à sombra do pé de jasmim, certa vez fiz uma piscina para as bonecas e tive o cuidado de forrar com plástico para não mergulhar as beldades num rio de lama, também tive o cuidado de não aprofundar a escavação, pois acreditava ser possível alguns chinesinhos escaparem pela abertura.
Imaginação não faltava para quem tinha à disposição, todas as manhãs, um quintal de terra batida e todo tempo do mundo pela frente. Hoje, lembro com saudade das mexericas tiradas no pé, da laranja lima que papai dizia ser a melhor e do pé de limão que mamãe dizia ser mais velho que eu, e foi numa tarde chuvosa que fiquei na janela, observando se iria resistir à força das águas, e depois do trovão e sem as raízes, já desgastadas pelo tempo, o estrondo maior se deu.
O limoeiro se despediu deixando a vista livre para a menina perceber que o universo era ainda maior que o seu quintal, foi a partir daquele dia, pós morte do limoeiro que começou a vislumbrar a vida além dos limites geográficos do quintal, o pé de limão foi um divisor de águas, quando nasceu ele estava presente, imponente com sua copa gigante, foi companheiro e sua despedida repleta de simbolismo, mamãe recolheu o tronco absolutamente oco e limpou tudo, sem que uma palavra fosse mencionada, era de fato, a primeira experiência envolvendo uma grande perda, no meio do quintal o vazio era imenso, uma tristeza que jamais encontraria explicação.
Tudo era menor, muito menor do que havia notado desde então, foi quando dei-me conta que estava crescendo, o quintal não mais era tão atraente, meus olhos voltaram-se para outros horizontes, hoje, ao completar meio século de história lembrei do limoeiro e entendo que foi ali que comecei a crescer.