Nonagésimo quinto dia
"A quarentena de um poeta"
Nonagésimo quinto dia:
Na terra onde se ouve o tropel das bandeiras, onde há o sítio que lavara dinheiro, escondia-se a peça mais importante do esquema da suposta organização criminosa que rachava o salário dos nomeados fantasmas da assembleia.
A casa colonial do defensor judicial do clã do comandante geral da nação tivera que ser arrombada devido ao silêncio do gerente da lavanderia carioca que se trancara há um ano e enfim se rendia as autoridades sem nenhuma reação.
Havia também a possibilidade de se trocar o adjetivo "escondido" por "cativo", pois segundo alguns investigadores, o famoso articulador de cédulas cortadas não tinha uma vida comum. Mas poderia ser considerado um preso privilegiado, pois a comunidade em volta do possível cativeiro testemunhara por diversas vezes o subir da fumaça junto ao odor das carnes queimadas.
No interior do imóvel havia um cartaz do ato institucional mais poderoso da época onde ordens eram ditadas do planalto que poderia acender ainda mais a fogueira a romper o tendão de Aquiles da família real.
O bruxo, dono do imóvel, que se tornara anjo, antes, respondera em público que não sabia do paradeiro do procurado, contudo o mantinha fechado em sua propriedade.
Possuía acesso total ao palácio e era um dos mais fortes aliados do chefe mor e sua parentela. O seu ato deixara os seus nobres clientes de calças arriadas ao ponto de quererem se distanciar para não aquecer mais ainda o chicote azorrague dos opositores.
Ocultou-se como se tivesse recuperado seus poderes de mago e ninguém conseguiu localizá-lo para dar esclarecimento ou até mesmo se autodefender do crime de obstruir a justiça.
O seu chefe mor mudara seu semblante a apresentar muito desgosto com a tripulação de sua barca e aceitara a demissão de mais um oficial a lhe conceder um abraço tão desengraçado quanto suas piadas de mau gosto.
Evidências
O silêncio, segredos guarda
E se quebra diante da lei
Que demora mas não tarda
As denúncias contra o rei
A sua coroa tomba
Como a sua máscara de pano
E o seu inimigo zomba
A ironizar o seu dano
O seu semblante muda
Como de um líder derrotado
A pedir que alguém o acuda
A se sentir injustiçado
Mas a maior excelência
Nunca perde a superioridade
É preciso muita evidência
Para se perder a majestade