MEMÓRIA DE PEIXE DOURADO

Minha memória, coitada, já não lembra o que escreveu ali na ponta

É curta, e esparsa quando lembra de algo; e daí, feliz por não se ver toda perdida

Suas lembranças vêm e vão - mais vão que vêm

Não há sinapse que dê jeito nessa relação informação-memória

De repente, o problema seja anterior à memória, tirando dela a culpa

Quem sabe, seja a falta de atenção a vilã a combater?

Lapso de memória, amnésia, esquecimento, branco, apagão

Já não lembro quantas vezes ocorreram em minha vida

Daí, não posso dizer que seja problema de idade

Desde sempre laborou em curto

Ah, se fosse como a galinha, que de grão em grão enche o papo

De estímulo em estímulo encheu-se o cérebro foi de fragmentos

O caderno de anotações há tempos é meu cão-guia

Tento marcar o caminho com folhas, mas estão todas em branco

Meu peixinho dourado e eu somos tão parecidos

Eu, na minha bolha oca, ele, no seu aquário de cristal

Ele, na sua natureza, eu, no meu signo zodiacal

Nós, circunscritos a perene maleabilidade de nossa memória

Antes que me esqueça, o nome dele é Favo