Nonagésimo terceiro dia

"A quarentena de um poeta"

Nonagésimo terceiro dia:

No nonagésimo terceiro dia do meu recolho social, eu me levantara de madrugada incomodado pela friagem que pelas frestas horizontais da janela me expulsara de Maria e me assentava na poltrona te tantos poemas e textos diários de minha quarentena.

Sentia-me um pouco sufocado e após beber exageramente três copos d'água, eu enchia o meu coração de tristeza ao lembrar dos anjos que se foram.

O sono havia se despedido de mim e a inspiração literária tirou um folga a me deixar escrever em minhas nuvens a realidade do tão recente passado.

Era tão bom quando eu acendia a churrasqueira enquanto as vozes se achegavam; Olhava em volta e via a alegria nas faces bronzeadas dos meus a paparicá-los com a promessa da mais apetitosa degustação; Ouvia os meus cantares de bossa nas vozes do trio feminino que me acolhera; Enfrentava a fila dos torresmos da feira para satisfazer a feijoada de Maria; Encontrava-me com a turma do científico a improvisar a nossa bela batucada misturada ao som da guitarra;

Enfrentava o comboio de alunos na rampa da escola puxados pela locomotiva a vir em minha direção; Invadia o estádio lotado de cores a abraçar o desconhecido na hora do gol; Corria em volta da vila olímpica a me aquecer para o futebol sub-sessenta das manhãs de sábado e tantos eventos nos arredores e beira da praia.

Todavia, eu tinha uma intuição que o inimigo enfraquecera e se despedira lentamente do nosso território ao contrário da opinião dos especialistas infectologistas que criticavam o afrouxamento.

Esse otimismo me fizera a relaxar e sentir em mim a olência de minha amada que semiaquecida aguardava o meu retorno.

A única coisa que não mudara foi a sinestesia de Maria Alice que misturava suas sensações a me tatear com olhos a ouvir meus passos.

Toda noite, nós

A cada noite na cama

Eu deito e rolo

A desfrutar do tempo

E dos momentos nossos

O peito do meu pé

Sob a a sola dos seus

Somente eu

No seu pensamento

Sobe até o pescoço

O arrepio, tremores de frio

A encurvar a sua cabeça

E a se espalhar em seu torso

Sê apegada ao meu cheiro

E eu ao seu

A pele colada ao colo

Um elo, um dueto, um prazer

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 16/06/2020
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