Octogésimo nono dia.

"A quarentena de um poeta"

Octogésimo nono dia:

Era comemorado o dia dos namorados e já se sentira o efeito do minimalismo, pois naquele ano não houvera ostentações de gastos e o mais valorizado fora estar na companhia do ser amado. Eu dedicara um dia de silêncio para minha Maria Alice a deixar os meios de comunicações desligados. Em vez daquele jantar especial no restaurante da praia, degustamos de uma saborosa lasanha de carne acompanhada de um sápido vinho tinto.

A pandemia nos colocara nesta posição. A busca do prazer de comprar criada pelo vício do consumismo nos deixara a pensar na nossa mudança das ações cotidianas.

Gostaria de poder me habituar a um novo estilo de vida que nos levaria à igualdade social, mas era utopia, o rico jamais abriria mão do excesso de carros na garagem, das centenas de saltos femininos da sapateira, dos closets lotados, e tantas outras coisas fúteis.

Seria um desafio depois que a guerra acabasse continuar a valorizar somente o básico a viver com o mínimo possível sem aceitar as investidas do capitalismo que nos impressionara com suas armadilhas.

A obsolência planejada dos produtos estivera a caminho para que fôssemos seduzidos, pois o marketing digital invadira nossos celulares e nos convencera a voltar a mercar de forma propulsora as grandes novidades.

A cada vez mais o maximalismo vai se apoderando do ser humano o deixando atrelado ao consumo doente ao encher as paredes de quadros simbolizando a necessidade impulsiva do homem contemporâneo de preencher seu espaço físico e mental.

Intencionalmente, era o segundo dia que os grandes estabelecimentos comerciais estavam a funcionar de maneira que mesmo com restrições, os amantes e enamorados do sistema argentário não abriram mão do enfrentamento das filas e aglomerações para tirarem proveitos das "promoções" da sexta-feira negra.

Sexta negra

Um dia negro a nos convidar

E vestidos de nada

Aceitamos o convite

Do chupim oportunista

No salão da festa

A música guia nossos passos

Sobre o piso liso

E não nos deixa correr

Nossos olhos são hipnotizados

Pelos manequins airosos

Que apelam ao nos seduzir

Com abates

O nu finalmente

É tapado de joias

É tapado de sedas

É tapado de couro

E no volver para casa

Os corpos estão saudáveis

Vestidos de tudo

Mas, despidos

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 12/06/2020
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