Octogésimo sétimo dia.
"A quarentena de um poeta"
Octogésimo sétimo dia:
No momento que em vários lugares do país se testara a flexibilidade da quarentena, uma declaração equivocada da porta-voz do grupo internacional de controle da saúde ficara no ar por alguns instantes. O tempo necessário para se criar memes a respeito da informação que o inimigo não era tão perigoso como o descreveram, pois fora passado para o mundo que os feridos sem sintomas não precisariam ficar confinados e com isto, tantos dias teriam sido perdidos na vida econômica dos trabalhadores.
E o reparo da informação não impedira a má intenção dos defensores da imunização do rebanho que vibraram a endeusar o seu grande chefe mor que era obcecado pela aquela ideia. Os negacionistas soltaram fogos a lançar suas apresentações nas redes sociais a exagerarem em suas postagens a chamar os confinados seres de tolos. Todavia, a euforia durara pouco, pois o esclarecimento correto confirmara o estado atual das pessoas que seguiram a lógica de que existe algo muito devastador e sanguinário do lado de fora.
Eu continuara convicto que tinha que proteger minha companheira e utilizara do meu raciocínio lógico de que a probabilidade de ser atingido seria grande, caso eu duvidasse da ciência, entretanto, eu deveria estar sempre atento à veracidade das notícias.
Fizera oitenta e sete dias que eu e Alice estávamos presos no quadrado de trezentos metros. Longe da máquina número ”um” baixa que quinzenalmente desmatava a minha cabeleira, os meus cabelos estavam bem próximos de receberem um pequeno rabo de cavalo, o peso do meu corpo aumentara alguns gramas, mas Maria Alice que dera folga ao seu completo salão de beleza, não se incomodara a passar a mão maviosamente sobre minha cabeça enquanto eu admirara ainda mais a sua mecha branca, a sua pele rejuvenescida e a rigidez dos seus membros.
Freud explica:
Não mudes, não implantes
Tenha a atenção flutuante com a tua beleza
Deixe-a falar tudo que atravessa a sua mente
Permaneça com o teu encanto
O mesmo do primeiro encontro
Teus cabelos não se prendem em minhas mãos
Não é necessária uma quimioterapia
Teus olhos me convidam a te abraçar
Eles não precisam de lentes de contato
Tua boca pede sempre um beijo
E ainda está repleta dos seus dentes naturais
Teus seios ornamentam o teu decote
Pra que bolas de borracha?
São tão formosos
Tua cintura é como o meio de uma ampulheta
E não há tempo que a faça enquadrar
Tuas nádegas aprumadas
São bem vindas ao fio dental
Que pernas porcelanizadas!
Nunca sofreram picadas
Teus pés excitantes ainda são capazes
De acompanhar os meus
Não mudes, não implantes