O teto branco - 8
Continua... Para acompanhar o fluxo da ideia, leia também os capítulos 1,2,3,4,5,6,7
Libertando-se do sintomático estado particular
Racionalmente compreendo tudo: é a criança coitadinha, é a adolescente por detrás da timidez, é a jovem com medo de viver a vida de tão reprimida. A mulher vestida de dor, trágica, cheia de dilemas, que procura escutar a voz interior deixa de lado a timidez e os medos tolos. Invoca a força feminina para singularizar a sua carência. Apaixonadamente, escolhe a escrita para falar dos desafetos. É possível que seja o amor próprio defendendo a essência tanto tempo escondida, trancada, mal direcionada, desbloqueando a criatividade, se livrando de condicionamentos negativos.
Aos poucos e sem pressa o desafogo se dá. De agora em diante solta os falantes para a vida represada sair. Com coragem e medo coloca para fora as angústias sem receio de ser mal interpretada. Dá importância a si mesma. Despreza o silêncio e vê surgir no seu caminho um novo tipo de força que a tire do “espaço fechado”.
E sem se preocupar com reprovação, porque não pretende aprovação alguma, quer apenas derramar no desenho das letras as suas memórias – aqui e agora. Numa espécie de representação com significados, de corpo e alma. Que tem o tempo de construção, mas não se trata de fantasia, ilusão, É vida vivida. O eu me autorizando à verdade de mim mesma. Do que é urgente exorcizar. Talvez um ensaio inacabado. Ou simplesmente um exercício de deslumbramento, com experiências reais, com falhas, mas sem vaidade, e com movimento, já que ninguém nunca é o mesmo.
Pensando bem, meu olhar não é de assombro. Cedo descobri na escrita a fagulha que me acende. Que pode vir de fora pode vir de dentro. Se toda a verdade é singular... Tudo e Nada pode ser desfeito nas palavras. Pode vir de um atravessamento. Pode ser apoio para aqueles que não têm apoio. Pode ser por comunhão. Para tocar a si mesma. Para chamar a atenção dos outros. Não importa a classificação. A linguagem escrita pode ser simplesmente uma escolha, um acontecimento, uma visitação, uma satisfação de desabrochamento, uma espécie de coragem para não ficar calada...
*Trecho de "O teto branco", autopublicação de minha autoria