ÂNCORA
O avesso dos metais enferrujando lágrimas despidas da impaciência que latejam o dedilhar frio de um dia-dia, que não traduzem o sorriso, a tristeza, a expressão de um corpo cheio de marcas, entre a tarde que viu um céu em garoa e as mãos que tocaram a gota ácida das poeiras de despertadores.
Entre as paredes que impedem o olhar de um céu já formamos uma rotação única que olhava para a mesma estrela. Flutuamos levemente entre os deuses e serpentes do nosso travesseiro, imaginando a vida em uma casa com cadeiras de balanço e animais brincando no quintal, enquanto ficávamos de mãos dadas olhando a rua transeunte de vozes.
Roendo as unhas, as minhas frágeis e inteiras emoções, lembram da sua boca, tocando o refrão de um beijo que não parecia ter fim, um fôlego entre a crua carne de um oblíquo olhar que invadiu-me como luz que acalmava o vazio.
E por parecer ser minha a toquei feito verso, piano clássico e bailarina, revoei como pássaro em fim de tarde para pousar no ninho, manto do equilíbrio onde seu cantar que me faz dormir.
Inexato, desproporcional, irracional, intenso, o amor atravessou-me a pele, entrando pela janela, e todos os sorrisos invadiam a cama, e aquelas paredes se tornaram tudo que a gente sempre quis, um mundo particular do que seria nosso.
Eu ando tendo pesadelos, medos, é como se sua luz não invadisse mais a janela do nosso quarto, seu brilho parece está distante do nosso infinito abraço, este que é como a imensidão do mar e das nossas preces.
Você está em mim como à primeira vista, o olhar bobo, as mãos trêmulas, a voz descompassada, tudo é você em mim, corroendo a fome do teu cheiro que é brisa de final do outono, na saudade que amarga e que torna o amor uma agonia pelo encontro.
Eu apenas estou com uma saudade, de acordar cansada depois de te despir a noite, com o desejo mais puro dos amantes. Acordar e te observar de cabelo bagunçado, olhar inchado, e respiração lenta como quem precisasse apenas do meu ombro para dormir um pouco.
Quero andar por ai, descalça, deitar com você na areia fina em tardes de domingo, comer pipoca no cinema e dormir em filmes que falam de princesas e gelo, ser tua em danças na cozinha, ou em poesias bayronianas.
Pode vir comigo, deixa de lado minhas loucuras, é melhor à dois se formos nós, pulando as cercas para achar grutas, ou arder entre o cais e o medo, mas ancora nesse meu peito que precisa de ti como abrigo.
Para meu amor: FJ