Octogésimo segundo dia.
"A quarentena de um poeta"
Octogésimo segundo dia:
Em meu país, uma morte por minuto era resultado da ação fulminante do inimigo. Em alguns bairros do subúrbio carioca, os encontros nos bares eram inadiáveis e parecera que o álcool era o antídoto adequado para a salvação.
Tudo parecera que voltara ao normal, houvera filas nas calçadas sem o distanciamento e as máscaras eram apenas um simples acessório caído sobre o peito.
Os números não bateram com aquela tranquilidade, todavia o público diminuiria, caso houvesse a persistência segundo os especialistas de guerra.
Ignorar a matriz de risco seria o grande erro de estratégia e o povo o aceitara sem ter a noção do perigo.
Os tiros gotejadores iriam atingir os aglomerados a ricochetear nos que apenas obedeceram a norma de ficar em casa e o inimigo demoraria mais na localidade a querer se lambuzar dos corpos suados do evento e dos ociosos do confinamento.
Uma testagem dos indivíduos poderia resolver a situação dos pequenos locais a impedir que houvesse tal irresponsabilidade.
O cúmulo da maldade estava a acontecer, pois as pessoas não se importaram em contaminar as outras.
Eu testemunhara uma cena horrenda ao ver um jovem marombeiro desmascarado se aproximar de um idoso a lançar uma metralhadora de babas na direção de seus olhos durante uma espera de atendimento no caixa de uma loja de hortifruti, o que me fizera a igualá-la ao mesmo fato que acontecera com o senhor que estava em estado grave após levar um empurrão do brutamonte das américas e ter seu corpo ignorado pelos demais.
Restara eu torcer para que o atirador ficasse fraco depois de tantos esforços, pois varria o mundo inteiro com seus ataques fulminantes e um dia aquilo teria que parar. Uma coisa eu tivera a certeza, ele nunca seria erradicado totalmente, como os outros que sofreram mutações e voltaram menos violentos.
A morte do vírus
Ele veio tão fulminante
A os bofes congestionar
Foi um massacre constante
A nos tirar o ar
Basta um pedaço de gotícula
A nos infectar
A atacar a primeira partícula
A se multiplicar
E cabe à defesa natural
Tocar o alarme da invasão
E para eliminar o mal
Há um plano em ação
É um exército da medula
A se manifestar
Que ao redor do alvo granula
Para o vírus se matar