O teto branco - 7
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Anos depois, conheci outro homem, dez anos mais velho, aparentemente seguro e livre como eu. Outro colorido a vida me deu. Os primeiros meses foram de namoro intenso, cheio de viagens. Juntos, conhecemos lugares deslumbrantes. Ele tão solar quanto eu, gostava de natureza, de cheiro de terra, de olhar o mar, de assistir ao nascer e ao pôr do sol. Um amor leve, desejado e vivido até quando o tempo permitiu. Coincidentemente, quatro anos.
Sobre relacionamento a dois, Cibele Fabichak, médica fisiologista e autora do livro, Sexo, Amor, endorfinas & bobagem, analisa “por meio do mapeamento cerebral, estudos apontam que o estado mental alterado pela paixão dura, geralmente, 48 meses. Durante esse período, a química cerebral é marcada pelo prazer e pela euforia, mas, com o fim dessa fase, a checagem racional do amor é o próximo passo da relação”.
De fato, a transformação da paixão em amor é tão sutil e quase não percebemos se não estivermos atentos. Entretanto, a autora enfatiza que acontecem: o companheirismo, a cumplicidade, os interesses em comum, a inovação, a tolerância, o respeito. Assim, a intimidade cresce, aumentando a vontade de convivência, de prosseguir o relacionamento. Passados 48 meses, inicia a segunda etapa de mais 48 meses. Uma espécie de momento sólido, que se dissolve aos 96 do segundo tempo.
Um dia descubro por que duram 96 meses meus “namoros-casamento”. Nem sei se posso considerá-los assim. Vai saber se eles já entram na minha vida de passagem, ou eu entro na vida deles com tudo sem perceber que não querem nada, além de aventura passageira. Daí achar que sou ingênua, que isso é carência; por isso me deixo enganar e acabo me tornando frágil e insegura, perco a energia e aceito viver relacionamentos destrutivos. E ainda costumo ouvir que sou uma mulher difícil de levar para a cama. Sinceramente, não faço tipo. Gosto de intimidade, e é muito raro ter intimidade em início de relacionamento sexual, amoroso. É possível sentir excitação avassaladora e em seguida saber lidar com o desconforto e a sensação sem graça de olhar um para a cara do outro.
Ah, teto branco, será que não sei namorar? Que infortúnio lidar com esse estado meu. Tomara que quando tudo for colocado para fora eu possa me resolver.
Então, posso dizer que conheci e convivi com dois tipos: um mulherengo, e o outro inseguro. Não sei onde li a explicação de um psicólogo; o artigo dizia: o tipo cafajeste implica uma verdade superficial em relação às atitudes que engana os olhos de quem vê. Ele será percebido no médio e longo prazo, pois é ausente, vazio nas promessas, oscila nas atitudes e é bem raso naquilo que faz, afirmava o psicólogo. Penso que nos dois casos, ambos tentavam esconder algo que envolvia origem e imagem.
Com o homem mais velho, pude identificar o quão seu comportamento era vulnerável. Típico de alguém inseguro. Talvez por isso ele evitasse compromisso. Falar sobre amor então nem pensar. Ele se defendia com a famosa expressão “lá vem você querer discutir a relação”. Nossa única “briga”, foi no término do namoro. Com certeza por causa da carência, eu não enxergasse o todo, enxergava apenas o que podia. É bem desconfortável ficar o tempo todo tentando decifrar o que esperar do outro. Ninguém aguenta viver assim. É muito desgastante, mina qualquer envolvimento.
Hoje entendo que nos dois casos fui inexperiente. Antes quatro anos do que um relacionamento de enganação por toda uma vida. Agora ando mais rápida para perceber, embora momentaneamente esbarre com tipo bipolar. Sinceramente, torço para me livrar dessa coisa de aceitar migalhas. Ainda bem que tenho você, teto branco, para falar das minhas mazelas. Você fica aí quieto, mas sei que me escuta.
Trecho de "O teto branco, autopublicação de minha autoria