O teto branco - 6
Continua... Para acompanhar o fluxo da ideia, leia também os capítulos 1,2,3,4,5
De volta ao namoro-casamento, depois de quatro anos de tentativa, o previsto pelo homem boêmio aconteceu. Não foi fácil juntar todas as coisas e sair de cena. Deixar o apartamento com vista para um pôr do sol lindo, onde eu adorava abrir a vidraça no final do dia e assistir ao gigante astro solar indo para outro lado do planeta. Gostava de imaginá-lo nascendo em outra terra, brilhando para outras gentes. Mas ao completar quatro anos vivendo juntos, tive a certeza de que esse namorado realmente não era homem de uma mulher só.
Mesmo contra minha vontade, era hora de deixar aquela situação, que tinha tudo para me adoecer. Então fui arrumando minhas coisas, me despedindo do apartamento, das pessoas ao redor, do bairro.
Profundamente mexida, doida, magoada, ressentida. Confesso tive medo de me arrepender. Medo de ficar e de sofrer. Medo de não amar de novo. Medo de não encontrar colo. Medo de não ser acolhida na volta à casa de minha mãe.
Embora tenha havido perdas materiais, o dano emocional foi bem maior. Vivi o luto debaixo de um cobertor por meses. Só queria o escuro. Não tinha ânimo para me alimentar. Emagreci muito. Aos 30 anos de idade cheguei a pesar 45 quilos. Algumas pessoas acharam que eu estava com AIDS. Foi um tempo longo até a vida renascer. Lembro-me de passar uns dias no litoral norte de São Paulo. Período revigorante, olhando o mar, junto à natureza, ajudou muito. Quando voltei desse retiro surgiu um trabalho, aceitei-o imediatamente. Dois meses no emprego novo, lá estava eu aceitando as migalhas daquele homem duplo de sentimentos. Foi só recuperar o vigor para ele se aproximar. Voltamos a nos encontrar, a sair de novo. Feito uma viciada, permitia o abrir e o fechar da ferida. Doía ter sentimento por um homem sem caráter, oportunista, com um tipo de amor pobre e desonesto.
Eu frágil, sem certeza de nada, sem chão fixo, sem porto seguro. Foi difícil sair de vez desse jogo sujo. Como foi relutante entrar quando nos conhecemos, pois sentia um desconforto. Hoje entendo, foi um sinal, o coração alertando “não entre nessa”, “não vá por esse caminho”.
Precisei chegar ao fundo do poço para compreender o significado de amor próprio. Finalmente, chegou o momento da libertação. Após insistentes tentativas, o corte definitivo aconteceu. Então, vivi um longo tempo de reflexão e sem envolvimento sentimental.
*Trecho de "O tero branco", autopublicação de minha autoria