AMERICA DO SUL PARTICULAR
A campainha tocava anunciando o fim do intervalo.
Os homens (todos com idade entre 12 e quinze anos)
fitavam a porta da sala de aula à sua espera.
- Bom dia! (dizia ela ao entrar)
- Bom dia (respondíamos em coro uníssono)
olhos presos nos seus movimentos,
nos seus contornos,
enfeitiçados...
- Hoje falaremos da América do Sul, relevo, hidrografia...
Hoje sonharemos uma vez mais (pensávamos logo)
como sonhamos em todas as suas aulas...
- A Cordilheira dos Andes,
maciço rochoso mais imponente
e mais importante deste continente...
Varinha na mão, localizava as suas seguras observações
no grande mapa pendurado na parede,
enquanto pulsavam descompassados os nossos corações...
Saia sempre muito justa,
acentuando o contorno dos quadris,
blusa branca quase transparente,
como as esvoaçantes neblinas andinas,.
pernas bem feitas e torneadas
e muito mais...
Assim Ela ocupava todos os espaços em nossas mentes...
E a aula prosseguia:
- O Aconcágua é o ponto culminante...
Aqueles seios pontiagudos,
destacados na blusa branca como picos andinos,
eram os pontos culminantes
dos pensamentos daqueles quase meninos...
- O lago Titicaca no Peru...
Ah! aqueles olhos (serenos lagos)
a nos fitar ternamente,
eram os mais belos lagos que imaginávamos...
- O Amazonas, maior rio do mundo em volume d’água,
desce dos Andes rumo ao Atlântico
atravessando o Brasil no sentido oeste leste...
Suas palavras, rios de carinho,
alcançando suavemente os nossos ouvidos,
atravessavam-nos em todos os sentidos
indo desaguar em nossos voluptuosos sonhos,
sonhos de tolos corações impúberes...
- Vejam que a América do Sul é bastante recortada
e apresenta um grande número de baías e enseadas...
Segura e serena, continuava a sua aula matinal
mas nós – jovens almas sonhadoras –
nada víamos que não fosse o relevo,
a hidrografia e a topografia
da nossa América do Sul particular:
nossa professora de Geografia...
Bragança, outubro de 1975