O teto branco - 5
Continua... Para acompanhar o fluxo da ideia, leia também os capítulos 1,2,3,4
Ah, querido teto branco, há muito tempo conversamos. Você já me conhece em profundidade. Será que tenho jeito? O que faço com aquilo que fizeram de mim? Com esses questionamentos? Será que um dia isso vai passar definitivamente? Não gosto de viver assim. Nesse “meio ácido-sintomático”. Até aonde vai esse exercício de reconstrução? Por que tudo demora tanto para acontecer na minha vida? Que lugar me pertence ou a que eu pertenço afinal? Será que um dia me liberto dessas lembranças? Das imagens guardadas pelos olhos de menina. Das palavras ditas por bocas adultas. Não, não era tempo de experimentar tudo aquilo.
Na tentativa de aprender a lidar com os fantasmas do abandono, de superar traumas do início de minha criação – que me impedem de viver um amor recíproco – sem o receio de reabrir antigas feridas, volto à terapia. Acredito que buscar ajuda é sempre melhor do que não se cuidar. Conhecer a si mesmo é um processo para toda a vida. Assim, tenho procurado me ajudar. Quanto tempo levará essa metamorfose, não sei dizer.
Sinceramente, não é fácil lidar com esses questionamentos, sobretudo quando se tem consciência do tempo passando, aumentando o querer mudar a si mesmo. Será por isso que pessoas extremamente sensíveis se suicidam? Por não encontrar eco nesse mundo sem ouvidos, de gente indiferente a inquietude emocional. Quem quer escutar a dor que habita no outro? Quem? Vivemos um tempo de partidos, de homens partidos.
Demore o tempo que for, não vou desistir de mim mesma, nem deixar de assumir responsabilidades pelas minhas escolhas. Aprendi a distinguir entre o que vale a pena insistir ou deixar pra lá. Desenvolvi visão crítica; repensar antes de tomar decisões. Embora não elimine a possibilidade de cometer equívocos, pois sei que é possível se enganar quando se tenta acertar. Como é natural dar um basta quando as coisas não vão bem e recomeçar outra vez.
*Trecho de "O teto branco", autopublicação de minha autoria