SETE DE OUTUBRO
SETE DE OUTUBRO
Quando um poeta morre, nada acontece.
Não há comoção pelo desparecimento de quem mal aparecia.
Não há dor pela perda que quem jamais se quis um ganho.
Não há pêsames àqueles que mal lhe sabiam vivo antes, discreto que era.
Poetas morrem todos os dias, ninguém se dá conta.
Todos os dias a lâmina do mundo deixa em carne viva os seus pulsos,
cuja fina pele mal se regenera para os novos cortes...
Todos os dias o abutre de Zeus -- ou o álcool da caninha... -- lhe consome o fígado em frangalhos...
Oh, Prometeu inútil, de que serve teu fogo?!
A descoberta da maravilha não permite mais que alguma luz, visto
que o Universo permaneça em trevas indevassáveis.
O que é a poesia senão uma chama na escuridão imensa?
Pouco importa se um fósforo ou uma supernova: Há matéria escura em demasia...
E o poeta está ali, segurando essa luz débil que lhe custa, simplesmente, tudo.
Sabei, vós outros, que hoje morreu um poeta.
Seu nome, sua vida e sua obra restem em paz.
Betim - 2019