Festa tardia
Tarde demais
para remorsos,
para a vã
nostalgia
dos retratos
em sépia
esquecidos
nas mesas
de canto
das salas.
O sabor
de um passado
esplêndido,
temperado
com ervas finas
escapou-me
ao paladar
que não mais
desfruto.
A penumbra
ampla da casa,
em fracas luzes
me bebe as lágrimas
da estranheza
na certeza
sólida
da solidão,
mas posso,
contudo,
imaginar pessoas
ausentes
e com elas
conjugar,
festejar
o tempo
em sua forma
pretérita.
Tontas alegrias,
bêbadas aforias
se atiram
aos sofás,
se abraçam,
se riem
das derrotas
do mundo.
Tilintar de taças,
tintos vinhos
da Borgonha.
A bruma
que contente
grassa
feito fumacê
fumaça,
entorpece
os presentes,
dignifica
as notas
amadeiradas
do tabaco.
A finesse
sonora do jazz
de manso piano
move os pés
dos comensais
que, aos pares,
conversam.
São narrativas
entusiasmadas,
pautadas pela
brilhantura
de acertadas
decisões.
Madrepérola
nos botões
dos vestidos
de festa
das senhoras.
Bem cortados ternos
risca de giz
passam ao largo,
ao triz
das desventuras.
Rediviva,
a lembrança
deita-se
como pó
no frio
assoalhado,
inunda-me
as narinas
entope-me
a traqueia.
De súbito,
o desconvite
ao regalo
de ser e
de estar.
Silêncio!
A campainha
está tocando.
O mordomo atende.
— Senhor, são eles.
Finalmente chegaram
para o festejo.
Chegaram todos,
ainda que tarde.