Quando a brisa....

.....noturna penetra pelas janelas abertas e me abraçam como um louco amante desejoso de me possuir, e me aperta com ternura com os seus braços suaves que se desvanecem e se refazem qual o pulsar de um coração aflito, eu grito por ti.
- Por onde andarás neste exato momento em que a solidão me aflige e a vontade de ver-te é mais forte que a de viver?
- Quais as calçadas que registram os teus passos e em quais alamedas da vida a tua imagem se desloca como um filme em câmera lenta,em preto e branco, filme mudo, calado, cópia do passado.
- Calada estou.Grito mas sem pronunciar o teu nome a fim de que os espectros não se assustem e louca me julguem.Grito em silêncio.
Grito calada, emudecida pela necessidade de assim ser.
- Outrora, quando a noite nos abrigava no seu seio repleto de mistérios, tu te entregavas a mim ocultando, sem cerimônias, os teus.
Apenas fingias numa entrega que não passava de um mero cartão de visitas amassado e jogado displiscentemente na lata do lixo.
Foi tudo em vão. A tua ausência sempre presente não me constrange mas abre-me os olhos para a impiedade e a hipocrisia do
ser humano. Não te julgo nem te condeno. Constato os fatos.
Tomo do casaco de frio e abrigo-me. Como aquecer a alma que ,
gelada, busca embrenhar-se por entre roupas que não lhes servem? Há
sempre uma maneira de se encontrar uma solução para cada situação adversa. Uma delas é recordar....
Vejo-me entre os teus braços quando a mentira era tão gritante que tomava ares de verdade e fazia-me com que eu me entregasse sem reservas e sem receios.
Hoje eu sei. Fui crédula por demais. Que importa!
Restaram as recordações que são alinhavadas com paciência para
que formem uma linda colcha com a qual me agasalho e me aqueço nos momentos em que a brisa da noite adentra o meu quarto e a
minh'alma anseia pelo aconchego dos teu braços.



Beijos e paz...