Nos contrários do viver
Pelas cordas vocais de orvalhos, poemas se recitam nas folhas dos quintais. A manhã é fria e tal qual artesã insatisfeita, desfia as brumas pouco a pouco. As janelas se espiam tímidas ao se abrirem lentamente. Como que em partos bem sucedidos, pessoas nascem de suas casas e adentram no berçário do novo dia. O tempo embrulha momentos vividos, engatando-os nas locomotivas das saudades.
E a esperança é um vagão cheio, alisando trilhos, inventando viagens.
Pelos varais da vida, as ilusões, tais quais peças íntimas estendidas e pregadas, tomadas pelas mãos do vento, acenam para o nada.
Vida é urgência, mas exige cautelas.
O amontoado de sentimentos que nos assolam em diversas ocasiões, é dado às experiências que vivenciamos. Alegria e tristeza, sempre ocupam o mesmo salão na dança das escolhas.
Os amores são acontecimentos esperando épocas de serem.
Os ódios talvez sejam por amores.
Há tantos modos de criar relatividades e interpretações para as coisas, que nos perdemos nas discordâncias.
Mas a vida segue desabrochando dias e noites, para a jardinagem de cada um cultivar seus canteiros, nas mais diversas formas de adubar com caridade e amor, solidariedade e carinho, ou então envenenar toda seiva vital, com egoísmo, ganância e covardia.
,