SOBRE TANTAS CRIATURAS
SOBRE TANTAS CRIATURAS
Marília L. Paixão
Estava lá na janela a moça
Mas a moça não estava na janela
Quem será que estava procurando por ela?
Ela mesma
Ela inteira
Ela pela metade
Ela, a moça da janela, nem feia, nem bela
Estava esperando por ela
Que ela se abrisse
Mas ela sabia que não era nenhuma flor
Ela mesma se disse
Ela mesma se olhava
Ela, a moça da janela, rabiscou-se num papel
Não gostou do desenho
Quis correr de si mesma
Não gostou de si mesma
Quis correr do desenho
Mas o desenho era ela
O desenho cresceu e ela se apavorou
No desenho engordou
Que monstro de flor
E exagerada como era no horror ou na primavera
Imaginou-se como um tronco de árvore
Devia ser porta a janela
Merecia ser morta a donzela?
Ainda naquele século se matou
Nada mais contam da moça da janela
Sem príncipe, sem velas
Os que a cumprimentavam por ali não mais passavam
Já nada esperavam
Dos seus sinais ou ais
Não se imortalizou em nenhuma literatura
A moça
A pura
Igual a tantas criaturas
Provando de sua moderna loucura
Ah! Insensatas criaturas...