SOBRE TANTAS CRIATURAS

SOBRE TANTAS CRIATURAS

Marília L. Paixão

Estava lá na janela a moça

Mas a moça não estava na janela

Quem será que estava procurando por ela?

Ela mesma

Ela inteira

Ela pela metade

Ela, a moça da janela, nem feia, nem bela

Estava esperando por ela

Que ela se abrisse

Mas ela sabia que não era nenhuma flor

Ela mesma se disse

Ela mesma se olhava

Ela, a moça da janela, rabiscou-se num papel

Não gostou do desenho

Quis correr de si mesma

Não gostou de si mesma

Quis correr do desenho

Mas o desenho era ela

O desenho cresceu e ela se apavorou

No desenho engordou

Que monstro de flor

E exagerada como era no horror ou na primavera

Imaginou-se como um tronco de árvore

Devia ser porta a janela

Merecia ser morta a donzela?

Ainda naquele século se matou

Nada mais contam da moça da janela

Sem príncipe, sem velas

Os que a cumprimentavam por ali não mais passavam

Já nada esperavam

Dos seus sinais ou ais

Não se imortalizou em nenhuma literatura

A moça

A pura

Igual a tantas criaturas

Provando de sua moderna loucura

Ah! Insensatas criaturas...

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 16/10/2007
Código do texto: T695909
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