Septuagésimo segundo dia.
"A quarentena de um poeta"
Septuagésimo segundo dia
O estrondo de uma bomba no palacete ao lado do nobre salão olímpico alcançara os caracóis dos meus ouvidos e eu chegara a conclusão que tão cedo não haveria uma folga para a dedicação total na luta contra a pandemia.
O que pegara carona na carroça da família do grande chefe e alcançara o posto de um dos sub's estava a ser vítima do ódio mortal dos que o queriam enjaulado.
A briga pelo poder desfizera amizades e ao mesmo tempo que se buscara provas nos discos rígidos e papéis manuscritos, outro amigo fulminantemente depusera na polícia maior sobre o caso que poderia colocar a casa inteira na berlinda. Um dos acusados daria a continuidade a sina dos líderes presos por corrupção com apoio de suas primeiras damas. A sua defesa negara a participação da fabricação do placebo:"O nada que cura". O cumprir da promessa que fizera aos seus ouvintes quando estava sobre a carruagem aberta rumo ao Casarão das Laranjeiras fora anunciado.
O estrupo de outra bomba se ouvira a vir da beirada do antigo cais com juras sagradas da verdade. O condutor da charrete que levara o comandante para o auge do planalto e nas suas paradas estratégicas cedera o gramado do seu quintal, voltara a confirmar com mais força o motivo do abandono da caravana.
Tantas balas disparadas em todas as direções, mas nenhuma acertara o malígno que seguia avante a nos direcionar ao topo dos atingidos, pois alcançávamos o maior número registrados no período de um dia, mais de oitocentos abatidos.
Era inútil enfrentar um inimigo tão misterioso e furioso que segundo alguns estudos poderia sofrer mutações a se acalmar contra a humanidade. O desejo de todos seria que a sua identidade fosse descoberta e que ele aparecesse exposto sobre uma mesa para que se pudesse estudá-lo detalhadamente.
Outras coisas vieram à tona como uma matança impecavelmente executada. A apuração que estivera sob o poder local estava prestes a ser transferida para o âmbito federal e aos defensores do símbolo da cidadania restara apenas aguardar a decisão de um tribunal autoritário.
E aquele lugar encostado a arte do asfalto ficara marcado pelo fato social comum que dera partida a novos rumos da marginalidade política.
A morte da arte
Onde as artes estavam a se misturar
Aos talentos, dádivas de gargalhadas
E sobre as mesas forradas de gargalos
Havia a alegria das letras espalhadas
Interrompida pelas rajadas de trabuco
Detonadas pelos perversos vagabundos
Que dominam o nosso mundo,
As nossas praças
E há dois corpos sobre os prismas de pedra
Que rodeiam o largo a entristecer a noite
Anfitriã dos nossos sossegos
Que chora a cada tiro do açoite de chumbo
E a arte morre naquele lugar...