Todo escritor tem uma alma em fuga. Do voo certeiro com destino ao amor (ou à loucura) ou da tristeza, pintada no abstrato quadro da desilusão que assiste às palavras secando à sombra, feito lençóis velhos suspensos por pregadores no varal. Para as pessoas profundas, tristeza é felicidade em expectativa, enquanto se olha pra luz, estando no fundo do poço de uma prisioneira emoção. Ah! Se pudesse dar moldes aos sentidos, transformando-os em sistemas eletrônicos com painel “liga-desliga” e monitor de curtos-circuitos... Pra sabotar a tristeza invasiva dos solitários pensamentos de uma mente doída, em choro. Quem dera fosse fácil entreter a tristeza com o movimento das nuvens em formatos de algodão ou a lua em suas fases. Ah! Esse mundo de emoções preenchidas em tempo real que não cabe a tristeza porque a privacidade é privilégio de quem conseguiu se esconder de si, enquanto acena em despedida. Se não fosse Goethe, talvez enxergasse a dor feito peso nos ombros e a tristeza como mala de viagem vazia. Sem Álvares de Azevedo, a desilusão seria uma chama apagada, sem a beleza das cinzas. E nos traços de Van Gog, Salvador Dalí e Picasso a melancolia seria um retrato mal acabado, sem brilho. Todo escritor é artista em transição e se não se envolveu com a tristeza, num caso de amor, cortou as lágrimas e se vestiu de angústia que não tem disfarce. Enterrou seus impulsos!