O teto branco - 2
Continua... Para acompanhar o fluxo da ideia, leia também os capítulo 1
Embora essa relação seja metafórica, ela tem sido uma base de apoio transformadora. Nessas conversas com "O teto branco" recebo uma força tão intensa que é capaz de me proporcionar calma – algo correspondente à medida de minha angústia, temporária, transitória. Uma ligação tão particular que chega a ser difícil descrever. A cada noite, antes de dormir, algo desperta dentro de mim quando olho para cima e vejo o meu fiel interlocutor. Meu templo de escuta. Meu universo narrativo. Meu cosmo para esvaziar minhas inquietudes.
Na persistente cura
Assistindo ao filme Náufrago, eu me vi na relação de amizade entre o personagem Chuk Noland, executivo da FedEx – interpretado pelo ator Tom Hank – e Wilson, uma bola de voleibol, que fora transformada por Chuk numa caricatura de rosto humano. A tal bola ajudou-o a enfrentar quatro anos de solidão e de impotência numa ilha deserta. No diálogo com a bola, ou melhor, puro monólogo, Chuk se sentia fortalecido e estimulado. Essa relação de amizade o manteve vivo.
Entendo bem esse simbolismo, pois olhando para o teto branco questiono minha vida silenciosa. Sem entender por que tem de ser assim essa existência, com poucos diálogos reais, com pouca companhia humana. Há anos vivo assim, como se fosse uma imposição do destino, se houver. É nessa mediação com o teto branco, olhando para ele, penso e analiso meus dias e, ao dormir, em sonho recebo sinais paralelos, pistas que tento decifrar e anoto nos caderninhos; são muitos, embora nunca tenha contado. Neles, guardo registros do que mantenho na memória seletiva, dos atravessamentos e assombramentos meus.
*Trecho continuação de "O teto branco", autopublicação de minha autoria