Pourquoi, pourquoi mon Dieux

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Século XXI

— Pega a visão!

A pandemia está no ar

como a psicodelia está

para a política.

Onde quer que haja a crítica

que haja a demissão.

— E daí? Lamento.

E viva o prodígio

de se fazer aniversário

nas terras do obituário

pujante, galopante.

É que no momento,

ele, o Messias,

não faz milagre.

Simplesmente vinagre

não vira vinho, ponto.

Estou tonto,

preciso tomar alguma coisa.

— Tem Regina, cloroquina,

tubaína e viúva Porcina.

— Vai querer o quê, senhor?

Prefiro que o juízo se tome

em nome da Pátria amada,

idolatrada, ainda hoje,

pela turba enamorada

da tortura, ditadura pestilenta

e letal, seita irracional

dos inumanos.

— Pourquoi, pourquoi

mon Dieux?

Dos enganos feitos votos

aos votos de feliz ano novo.

Durou pouco a alegria bovina.

Nosso país quer nos matar,

nos põem na gangorra com um vírus.

— Isso, filhos. Vão brincar.

Pega-pega, esconde-esconde.

Onde quer que estejamos

que corramos o bastante

até a exaustão, até faltar o ar.

Sim, a ordem é aglomerar

em portas de bancos

toda a ralé-pobraiada,

convidá-los à armadilha

da porca e parca mesada.

— E se reclamar

vai baixar a quantia.

E quem não sabia o que era

Estado mínimo, vai saber.

A quem já sabia, resta morrer

de fome e de raiva.

Neiva do céu...

Céu de brigadeiro

no pardieiro dos trópicos.

Epicentro da doença

do entendimento.

Tudo é falseado.

— Extra, extra:

Eleições diretas, já!

— Rá, primeiro de abril.

Da casca do ovo

nascem os bobos do grupo

de família do zap-zap.

Ilusionismo de mandrake

está com tudo, tá na moda.

Milícias digitais

cyber-pinóquios

em colóquios lacradores.

Carlota Joaquina,

filha da Bozolina

prepara os dedos:

cento e quarenta caracteres

do twitter a favor do capitão.

— Papai não é o Capeta,

Belzebú, Cramulhão.

Como pode então ser apto

o diabo sem virtudes

às benesses da santificação?

Oh, São Satanás,

soberano do poço flamejante

respondei-me a indagação:

Merece abrigar a ti

a obra-criação de Niemeyer?

Não. Não merece.

És digno da arquitetura

de fineza fria de Brasília?

Não. Não é.

Talkey. Então do quê seria?

— Churrascão na casa do...

(insira aqui sua sugestão)

Traga por favor:

600 espetinhos de rancor

600 kg de filé de baixeza

600 postas de fraudador

600 canapés de estupideza

Seissentos reais? Não dá

nem pra comprar a metade

da cesta básica, quem dirá

alguma amenidade, doutor.

Não dá para a terça parte

das despesas de quem parte,

para o consolo de quem chora.

Na hora da morte, um corte no solo.

Vala comum engole os corpos.

Escavadeira derruba a terra

sobre a batalha travada,

guerra perdida.

— O passamento,

passagem só de ida.

Cancelem essa narrativa,

missiva insolente

de um poeta em renitente

estado de angústia.

Tirem-lhe o ministério,

faculdade de escrever

o que nem mesmo

ele é capaz de conceber.

— Pourquoi, pourquoi

mon Dieux?

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 23/05/2020
Reeditado em 28/05/2020
Código do texto: T6956038
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