Pourquoi, pourquoi mon Dieux
Data estelar:
Brazil 2020 (Beta version)
Século XXI
— Pega a visão!
A pandemia está no ar
como a psicodelia está
para a política.
Onde quer que haja a crítica
que haja a demissão.
— E daí? Lamento.
E viva o prodígio
de se fazer aniversário
nas terras do obituário
pujante, galopante.
É que no momento,
ele, o Messias,
não faz milagre.
Simplesmente vinagre
não vira vinho, ponto.
Estou tonto,
preciso tomar alguma coisa.
— Tem Regina, cloroquina,
tubaína e viúva Porcina.
— Vai querer o quê, senhor?
Prefiro que o juízo se tome
em nome da Pátria amada,
idolatrada, ainda hoje,
pela turba enamorada
da tortura, ditadura pestilenta
e letal, seita irracional
dos inumanos.
— Pourquoi, pourquoi
mon Dieux?
Dos enganos feitos votos
aos votos de feliz ano novo.
Durou pouco a alegria bovina.
Nosso país quer nos matar,
nos põem na gangorra com um vírus.
— Isso, filhos. Vão brincar.
Pega-pega, esconde-esconde.
Onde quer que estejamos
que corramos o bastante
até a exaustão, até faltar o ar.
Sim, a ordem é aglomerar
em portas de bancos
toda a ralé-pobraiada,
convidá-los à armadilha
da porca e parca mesada.
— E se reclamar
vai baixar a quantia.
E quem não sabia o que era
Estado mínimo, vai saber.
A quem já sabia, resta morrer
de fome e de raiva.
Neiva do céu...
Céu de brigadeiro
no pardieiro dos trópicos.
Epicentro da doença
do entendimento.
Tudo é falseado.
— Extra, extra:
Eleições diretas, já!
— Rá, primeiro de abril.
Da casca do ovo
nascem os bobos do grupo
de família do zap-zap.
Ilusionismo de mandrake
está com tudo, tá na moda.
Milícias digitais
cyber-pinóquios
em colóquios lacradores.
Carlota Joaquina,
filha da Bozolina
prepara os dedos:
cento e quarenta caracteres
do twitter a favor do capitão.
— Papai não é o Capeta,
Belzebú, Cramulhão.
Como pode então ser apto
o diabo sem virtudes
às benesses da santificação?
Oh, São Satanás,
soberano do poço flamejante
respondei-me a indagação:
Merece abrigar a ti
a obra-criação de Niemeyer?
Não. Não merece.
És digno da arquitetura
de fineza fria de Brasília?
Não. Não é.
Talkey. Então do quê seria?
— Churrascão na casa do...
(insira aqui sua sugestão)
Traga por favor:
600 espetinhos de rancor
600 kg de filé de baixeza
600 postas de fraudador
600 canapés de estupideza
Seissentos reais? Não dá
nem pra comprar a metade
da cesta básica, quem dirá
alguma amenidade, doutor.
Não dá para a terça parte
das despesas de quem parte,
para o consolo de quem chora.
Na hora da morte, um corte no solo.
Vala comum engole os corpos.
Escavadeira derruba a terra
sobre a batalha travada,
guerra perdida.
— O passamento,
passagem só de ida.
Cancelem essa narrativa,
missiva insolente
de um poeta em renitente
estado de angústia.
Tirem-lhe o ministério,
faculdade de escrever
o que nem mesmo
ele é capaz de conceber.
— Pourquoi, pourquoi
mon Dieux?