A POESIA ADOÇA A BOCA NUM DIA DE COBRA

Tudo o que faço é um canto de amor ao irmão. Pobre de mim que sou apenas um condenado a pensar e a dizer o que percebo e sinto. Deus é o bafejo que me anima. Assim como a emoção é o meu cadinho de ansiedade e de consciência, o exercício do amar o próximo é a voz Dele, não a minha. Assim, creio, nasce a minha condenação à Poesia. Ele, o mago do mundo, é invisível e impalpável. Não é um bichinho de pelúcia que se afofa junto ao coração e ao rosto desde a infância. Mas é de fofura e calor a sensação na pele quando o amor está próximo da gente. Ele, por vezes é miragem, um vulto indefinido no meio do deserto. Mas é possível sentí-lo quando a humanidade sofre e não pragueja. Dobrados os joelhos e de mãos postas, o homem é figura formosa. Rememora a Humildade, esta criatura tão pouco havida no coração do homem comum. É simples a gestação do amor. O difícil é abrir a alma para o encantamento.

– Do livro CONFESSIONÁRIO - Diálogos Entre Prosa e Poesia. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 273:4.

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