Retalhos

Nascera pra carregar o drama do mundo. Dia após dia, catava para si as dores alheias, uma a uma, e dos retalhos das dores bordava colchas tristes e belas. Tornou-se médica dos retalhos. Dores que doíam tanto que mais pareciam feridas. Vidas que mais pareciam desgraças. Ouvira as estórias, e com o cuidado de uma artesã inventava outras vidas. No rosto os olhos da melancolia a olhar a própria existência. Aprendeu a construir seus caminhos por meio dos caminhos doutros. Aprendeu que os movimentos do mar em dias cinzas ensinam mais que os livros. Que o afeto cura mais que o remédio. Aprendeu a seguir.