Reminiscências
Reminiscências e fragmentos de infância
Onofre Ferreira do Prado
Recordo com a nítida lembrança,
Dos lugares, dos detalhes bem definidos,
De um tempo, já distante, na infância,
Durante um trajeto que muitas vezes eu fazia,
Da Fazenda Ribeirão, de meus queridos pais,
À Fazenda do senhor Jeremias.
Contava-me com menos de dez anos,
Cheio de alegria, de sonhos, de liberdade,
Indo a pé ou montado em meu Castanho,
Percorrendo aquele chão encantado,
Cantando e admirando os passarinhos,
Indo brincar com os filhos do vizinho,
Ou por vezes, indo levar algum recado.
Partindo da Fazenda Ribeirão:
Dentro de um cerrado virgem e denso,
Tendo à esquerda as matas no baixadão,
Atravessava um bosque, uma barroca e uma várzea,
Ia seguindo rio acima, na mesma estrada
E logo mais à frente, avistando a saudosa casa.
Lá das matas quase sempre se ouvia:
O bramido alucinante dos primatas,
Em multidão sobre as altas gameleiras,
Numa melodia uniforme e rítmica
Uma verdadeira e rara epopeia,
Indescritivelmente terna e mítica.
Eis que, naquele habitual percurso
De quarenta minutos ou pouco mais,
Eram tantos planos e meditações,
Como conhecer um grande amor,
Até cortejar as filhas do vizinho,
Mudar para uma cidade grande
E se os planos dessem certo, ser doutor!
O mundo inteiro era só meu. Quase perfeito!
De encantamento, de sonhos, de liberdade,
Cravados na retina, bem no fundo da alma.
Fragmentos daquela infância querida,
Com meus pais, minhas irmãs, daquela gente,
Que o tempo implacável não traz de volta!