Sexagésimo segundo dia

"A quarentena de um poeta"

Sexagésimo segundo dia:

Deus quando criou a porção seca terra, antes criara o ar fresco e deveríamos fazer todo o possível para respirá-lo e sermos seres saudáveis a inspirar a substância salutar a vir das plantas, no entanto, o enchemos de bactérias e gases venenosos tais como nossas mentes. O ar puro, preciosa dádiva, era o segredo da vida continuada. Contudo, contaminado, o ambiente que fora transformado em um campo de batalha precisara ser depurado pelas ações do próprio homem. O fluxo na área urbana seria difícil, porém ele circularia nas ruas, sem atividades comerciais e nas praças, sem comícios. O mundo inteiro estava a perceber que o confinamento adotado tivera como resultado a melhoria na qualidade do ar graças a redução da poluição devido a menos transporte e menos produção.

Mas uma ordem emanada de autoridade superior decretara abertura de lojas na capital e contradissera o pensamento da maior parte. Todos que aflouxaram suas guardas para encarar o inimigo sofreram danos, inclusive aquele norte europeu do primeiro mundo citado pelo general como o grande exemplo de isolamento vertical que estava a encarar uma enorme recessão e mortes altas.

O ar era tão precioso naquele momento de colapso que houvera respiradores mecânicos, equipamentos cruciais para salvar vidas, a ser disputado no mercado negro ou livre de licitações. As possibilidades de fraudes durante o enfrentamento de emergência da saúde pública caíam no colo dos corruptos vampiros que passearam por cima dos milhares de cadáveres para ludibriarem o povo mesmo, a saber, que a necessidade maior dos pacientes graves seria o leito com respirador. Vampiros do alto escalão da Secretaria de Saúde foram descobertos como executores da trama, porém, não se soubera do mentor da ideia satânica que assombrara a cidade.

Sanguessugas

O alento do poder

É o sangue proletário,

O alimento dos vampiros

Que mamam o erário

A desejar o sumo

A praticar o dolo

A talhar o sonho

A mutilar o tolo

Os sanguessugas de sentinela

E seus afiados dentes

A chupar as goelas dos entes

É a torpeza

São servidos a eles na mesa

Com talheres de prata

Um vinho à francesa

E do leite de burra, a nata

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 17/05/2020
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