O JARDINEIRO
O JARDINEIRO
Tão agradável
ao homem é ocupar-se em cuidar dos jardins.
Todos os dias,
exceto o de descanso, ele cumpre o seu ofício
de jardineiro. Não sabe nem quer
fazer outra coisa,
a não ser trabalhar em jardinagem.
O homem tem seu lar.
Cuida de sua família. Leva uma vida simples.
Recebe o provento como servidor
público, só para cuidar dos jardins urbanos.
Habituado a passar
as horas do dia cuidando dos jardins,
o homem sonha
com uma vontade natural de ter o seu
próprio jardim.
Após o dia em seu labor, ele chega em sua
humilde casa.
Corre a vista no amplo terreno doméstico.
A casa fica recuada e está inacabada.
No fundo há um quintal.
Depois de concluída
com uma varanda em sua frente
ou um pátio (tal o pátio colorido no poema
de Borges), ele ainda terá área suficiente
para que ofereça a sua moradia,
a beleza vegetal de um flórido jardim.
O homem sabe como fazer e cultivar
um jardim. Nasceu pra jardinar.
Pra ele, o jardim, é como um labirinto florido,
onde qualquer pessoa pode
transitar por ele facilmente. Quem observa,
vê a intimidade saudável
entre o homem jardineiro
e as flores diversas que as cultiva.
O riso humano
mescla-se com os risos vegetais.
Do humilde servidor que zela das praças
ajardinadas e das flores que as perfumam,
emanam alegrias simultâneas
que repercutem na qualidade de vida
dos munícipes, através do ar limpo
em prol da precisa respiração, e dos instantes
agradáveis de lazer nas diversas
áreas verdes bem cuidadas.
O homem e o seu ofício de jardinagem.
Os jardins são pra ele, de modo simultâneo,
trabalho e lazer.
Ele anda pelos corredores floridos,
atento a cada
detalhe que precise de seu toque de artesão
cultor de flores. Enquanto o fluido
vital lhe condiciona o vigor físico,
não lhe falta vontade pra semear, cultivar
e zelar dos jardins urbanos.
Bem íntimo das flores, o homem trazia
pra sua casa o cheiro
mavioso delas. Assim, por assim dizer,
havia em seu lar,
um jardim de flores invisíveis,
só pela presença
do olor predominante.
Por fim, o jardim doméstico ficou pronto.
O sonho de ter o seu próprio jardim
foi realizado. Pelas cercanias,
não havia além dele,
quem tivesse um jardim tão belo
e bem cuidado na frente da casa.
Logo correu na cidade a notícia
de que o servidor público, cuja atividade
era cuidar dos jardins urbanos,
também fez, embora num
tamanho menor, um aprazível jardim
na frente da própria casa.
O seu feito proporcionou ao seu
domicílio inúmeras visitas assíduas,
incluindo parentes, amigos,
colegas de trabalho e até desconhecidos.
Pela fama modesta obtida,
o homem jardineiro
foi promovido a chefe dos setores
de áreas verdes
e jardins da cidade.
E, pra não ficar sem cuidar de jardins,
continuou cuidando de apenas um,
mesclando ocupação e lazer, no próprio lar.
Adilson Fontoura