Quinquagésimo nono dia
"A quarentena de um poeta"
Quinquagésimo nono dia"
A cada dia subíamos na tabela dos países mais vitimados pelo ignoto.
Elevaram-se a crise sanitária, a econômica e a de informações. O direito de ir e vir era mal entendido por parte da população, a que seguia a ideia de não se isolar, todavia, havia restrições não conhecidas que garantiam as imposições dos protetores da vida.
A ciência era o maior esforço para evitar o epicentro e o seu empirismo estava sendo executado arduamente pelos racionais inatos que sempre exercitaram suas mentes em prol do conhecimento.
Eu sentira muito pelos que descartaram o conhecimento, pois acreditara que vivemos sob o poder científico, estamos sempre a buscar a verdade através de nossas próprias experiências, pudera pensar nos cientistas da mata que se tornaram curandeiros de seus povos por conhecimento e testagem de suas ervas que originaram a enorme indústria farmacêutica.
As mentes sempre ociosas desconheciam a razão e consultavam seus oráculos a ignorar os tubos de ensaio e a crer nos profetas da politicagem.
Um debate em meio a uma grande batalha de preservação da vida foi priorizado pela mídia que vestia a camisa da oposição a mostrar a cada instante o descontrole do alvo que não se importava com os dardos.
O relevante assunto era a publicidade, um princípio que dimensiona o tamanho da cidadania. A transparência total de anteriores conversas que confirmariam um possível crime do líder da nação estava sendo discutida pelos editores mentais de uma poderosa facção.
Em letras pequenas no rodapé da tela gigante, passeavam os números tristes da mortalidade que crescia como os votos dos programas televisivos de realidade, a nos assustar.
O homem talvez tenha sido o culpado daquele triste cenário, pois em busca de suas ambições esqueceram da logística de proteção da humanidade que é investir na sustentabilidade da Terra, destruíram-na parcialmente e na fatia que lhe resta assiste à festa do retorno, o mais cruel dos castigos.
O mundo chegara ao limite e naquela tarde, chorara pelos que partiram e aclamara em silêncio pelo livramento dos meus.
A ciência
Se não houvesse a ciência
O tétano se espalharia
A sua barriga cresceria
Sem feto
Não haveria cepas em seu corpo
Não imunizado
Um organismo sem defesas
Como o de um animal desvacinado
A mão destra tremeria
Os holofotes a se apagar
Não se ouvira o som do alarme
E a sua linha, linear
Existiria mais óbitos que vida
Seria óbvio a morte
A sua contagem seria esquecida
E seu mundo entregue a sorte