Resquícios de Prosa (12/05/2020)
A carta fora rasgada e com ela todas as palavras e tempo gasto em redigi-las foram ao lixo. Mas não o sentimento do remetente. Este permanecera o mesmo. Na verdade, ainda mais latente, já que todas suas preocupações não encontrariam um fim. Por que tanta frieza?
E se tivesse escolhido o pior dia pra tomar aquela decisão. Nunca poderia saber? Talvez se tivesse esperado um dia só, sua decisão seria diferente da que hoje lhe parecera a melhor a tomar. As consequências viriam mais cedo do que receava então. E disso não podia fugir.
O silêncio lhe ensurdecia. Por que tão quieto? Sabia que a mente nunca parava. Será que nem um só de todos aqueles pensamentos merecia ser compartilhado? Por que se mostrava tão indiferente a tudo e todos? Não podia ser verdade. Tentou então chamá-lo pelo nome.
Se perguntava se tudo aquilo era mesmo necessário. Todo aquele esforço valeria a pena? Algum dia seria bom o suficiente? E tudo isso para o quê mesmo? Já nem sabia. Só se perguntava: por que não? Não custava nada tentar assim como não custava perguntar. Por isso, o fazia.
Cansava de dizer, dizer e não dizer nada. Nem mais sabia dizer se queria dizer algo. Só sabia que assim mesmo o dizia. Como quem se acostuma por comodidade, necessidade ou tédio a um hábito e dele se agarra como disso dependesse sua vida. Na dúvida, dizia...