Vida brinca de viver
A cidade se espreguiça, esticando tênues sombras de edifícios por meio de densas brumas. As pessoas, tais quais marionetes dependuradas no cinza, deixam-se levar pelo embacio das emoções.
É que a vida brinca de viver todos os dias. Com suas antíteses, no tabuleiro do livre arbítrio, nos convida a criar estratégias. Optamos, pois, por atalhos ou direções já definidas.
Vejo pontes e trilhos, ruas em pedaços, até onde a vista alcança, bem ali na boca da névoa devorando-as. Como é bonito sabê-las e ter a certeza de que não serão digeridas! Se as queremos por inteiras, é preciso tomar a decisão de dar o primeiro passo e adentrarmos as brumas. A beleza se desnuda lentamente e vislumbra em cada parte do mundo, quando se tem vontade de seguir adiante, vivendo e agradecendo ao Criador.
As janelas escancaram casas; O frio escorrega na pele, obrigando agasalhos a cumprirem seu papel de proteção.
Bocejos conciliados com esperanças desabrocham dos vestígios do despertar. A manhã é arte nos pincéis da natureza, seduzindo orvalhos na cútis das flores. Logo as cortinas finas em brancuras mescladas a grises, se dispersarão. O tempo é o único que segue cadenciado, soltando em cada espaço, o ser e o deixar de ser de cada coisa, de cada existência.