Quinquagésimo primeiro dia

"A quarentena de um poeta"

Quinquagésimo primeiro dia:

A antonomásia de "Namoradinha do Brasil" fora manchada pelo vestido da noiva do governo que dissera aos convidados que o casamento estava prestes a findar, uma novela que tivera o último capítulo revelado. A arte cultural estava ociosa e retornara para as mãos que regem frases dantescas e reforçara a ideia preconceituosa dos conservadores. Todavia, houvera o choro da guitarra e o canto dos artistas a se manifestar via rock and roll sobre o momento e contexto social.

No confinamento curto, eu ouvira uma coletânea de blues e viajara no gritar da gaita que me levara para o mundo das colheitas de algodão quando a prisão era longa, porém não houvera o paladar amargo, o corpo quente e a falta do ar.

Blues

No tocar da minha guitarra o teu choro me alucina e as gotas de vinho a escorrer em meu punho se confundem com o sangue da escravidão dos tempos das colheitas de penugens brancas,o algodão que aquecia os donos

A cada percurso ao teu destino

Meus dedos te acompanham

Meus ouvidos te privilegiam cada vez mais

E o teu sonido se adentra em meu âmago a curar o meu estômago

Posso te entoar infinitamente

Tanto é o teu poder sobre mim

E nunca ficarei só

Pois o teu som me conduz

E vem harmonizado de Blues

Maria declamara a poesia "O Cânion de Xingó", e eu gravara um áudio e o transportara para uma nobre mulher que no século passado me ensinara tantas coisas ao saber alguns dos meus segredos e conhecera o meu medo, o maior dos silêncios. Ao seu redor houvera a benquerença dos que possuíram um apego ao seu mando cheio de ternura sob o comando da tão generosa criatura e quando lhe desejáramos boa ventura, ela se aproximara da Linha do Equador onde a quentura lhe dera felicidade a nos deixar saudades do seu mavioso grito de guerra, da liderança do seu jaleco branco, da cobrança dos cassettes drives e da vontade de viver.

O Cânion de Xingó

Sobre uma abundância de água doce

Estou a navegar

É o Velho Chico a me carregar

Para o caminho estreito

Um lugar de paredes de pedra

Esculpidas pelo tempo

E polidas pelas mãos das águas

Que trouxera a vida

É como se fosse um sonho

O seu leito a me levar

Para o paraíso do talhado

Onde poderei, enfim, te furar

E descer até as suas profundezas

Para contigo medir forças

E subir com a certeza

De que és inocente

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 05/05/2020
Reeditado em 09/05/2020
Código do texto: T6938377
Classificação de conteúdo: seguro