EXATOS PARA O AMOR
Os pêlos de teu fogo são louros – mesmo que o sol não haja – e a luz se faça nesta folia de ver o contraponto da casa: convivem guardanapos sobre a mesa, migalhas de pão e trastes de cozinha, sabão e detergente derramados na pia e o gozo que abunda, mesmo que a fonte se faça no amor tímido, carícia de final do dia.
Crepusculares são os olhos e o demoníaco espanto de nos sabermos exatos nas roupas dependuradas nos varais, espreitando os tapetes e a cama, ali onde moram Arcanos e suas taças.
Jamais o tédio, a mediania que verte no silêncio arquivado.
Exatos. Exatos para o amor rouco do rádio, a quinta categoria em ondas moduladas, chorosas na voz do cantor popular, dolência na dor-de-cotovelo.
E os lençóis em tuas mãos são hóstias para profanos modelos. A respiração voa para o túnel do tempo.
E são mágicos vôos os desses mosquitos que me mordem o pescoço. A língua é densa, carnívora. Como se o Nada fosse apenas esta hora em que o amor se esconde dentro de nós.
E somos exatos agora, quando a vida é apenas o passo, o sinuoso traço em que silhuetas e sombras compõem o ambiente em que mora a boca que sussurra belezas.
Porque orar sobre o Belo é mais o caminho de saber que o que escrevo não relatará jamais o que tuas mãos versejam sobre o meu corpo e pousam – exatas – no meu sexo.
– Do livro EU MENINO GRANDE, 2006 / 2008.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/693419