2040: NOSSOS SONHOS SE CONCRETIZARAM... ELO 1
Neste longo período de isolamento social por causa da pandemia da COVID-19, dá para fazer muitas coisas diferentes... Estamos quase numa situação de “cárcere privado”. Quem nos trancafiou em nossos lares foi um inimigo invisível, minúsculo, mortal e tão frágil ao mesmo tempo. Ele roubou muitas coisas que estimamos, mas não pode nos roubar a liberdade da imaginação.
Quem dá asas a sua imaginação pode voar muito longe. Pode até mesmo voar com facilidade para outras eras do passado ou do futuro... Com o exercício da imaginação, podemos construir lindos sonhos - a base para uma realidade concreta muito melhor do que a atual...
Aqui neste “Recanto da Imaginação” quero lançar um desafio: Vamos viajar para o ano 2040 e imaginar o que queremos encontrar em nosso bairro ou em nossa cidade. Podemos construir juntos uma coleção de ideias inovadoras. Quiçá nossos sonhos se concretizem nas próximas duas décadas.
O convite está feito. Quem quiser registre neste Recanto os seus sonhos. Sugiro que façamos uma corrente com muitos elos fortes. Para facilitar a identificação desses elos, podemos repetir o mesmo título, apenas colocando no final o número do próximo elo.
Convido você a repassar esse desafio para outros autores do RECANTO DAS LETRAS. Se quiser, aproveite para repassar esses parágrafos iniciais e depois apresente os sonhos que você gostaria de ver concretizados em 2040.
Eu vou apresentar os meus sonhos...
Foi uma viagem bem tranquila, um voo sem escalas. Com as asas da imaginação, cheguei ao meu bairro no ano de 2040 e confesso que está difícil reconhecer que é o mesmo local onde vivi algumas décadas.
Tenho muitas novidades para contar quando voltar para o presente. Passados vinte anos daquela terrível tragédia mundial da Covid-19, o mundo não é mais o mesmo. É difícil reconhecer traços da “antiga civilização”. Hoje os médicos raramente precisam tratar doenças. Eles trabalham para preveni-las. Muitas profissões se extinguiram ou mudaram seu foco radicalmente. O dia a dia dos policiais está longe de ser colocar na prisão os desordeiros. Eles têm a nobre missão de orientar os cidadãos a cuidar da ordem que surgiu depois do grande caos.
Aquele caos abalou as estruturas do “mundo antigo”. Ele foi um mal necessário para derrubar as pilastras apodrecidas que sustentaram aquele mundo por longos séculos. Depois de contabilizar tantas perdas e miséria, a humanidade buscou caminhos para se reinventar. Pelo mundo todo, surgiram concursos de ideias.
Coisas novas precisavam ocupar o lugar dos destroços gerados pela ganância e egoísmo. A imaginação fértil de bilhões de humanos trouxe à existência um leque multicolorido de formas inteligentes e saudáveis de organizar a vida em sociedade.
Nem tudo está pronto ainda. Mas tudo mudou no meu antigo bairro. Ali agora existem três vilas cooperativistas. Cada vila funciona como uma pequena cidade autossustentável. Nela os moradores produzem mais da metade de todos os seus mantimentos. Doença é algo raríssimo. Fome é coisa totalmente desconhecida. Todos cultivam a saúde do corpo, da mente, do espírito, da sociedade.
O ar é puro. A água do rio que atravessa a nossa vila é o lar de muitos peixes. Nas margens do rio, uma longa sequência de árvores frutíferas. A natureza é exuberante e todos podem se servir dos seus frutos livremente. Todas as fontes de energia utilizadas são renováveis e não poluentes.
O uso de carros é praticamente desnecessário no dia a dia. Tudo está perto de todos. Veículos autônomos com motor elétrico costumam nos levar para conhecermos a dinâmica peculiar de vilas mais distantes ou para passearmos pelos parques naturais bem preservados e cheios de atrativos.
Os primeiros andares das dez torres da nossa vila abrigam as atividades de distribuição, educação, lazer e serviços. Nenhuma criança precisa ficar presa no trânsito ao ir para a escola. É só descer pelo elevador da sua torre até o térreo ou, no máximo, caminhar até uma das torres vizinhas. Apesar de ainda se usar o nome “escola”, muita coisa mudou na maneira de ensinar às crianças os conteúdos importantes para se tornarem cidadãos comprometidos com o avanço da coletividade.
O jeito antigo de dar aulas acabou. As crianças amam aprender lições que as tornam mais espertas cada dia. Muitos pais participam das aulas junto com seus filhos, aprendendo e ensinando atividades práticas para a manutenção e aprimoramento da vida na vila. O cultivo constante do senso de coletividade é a melhor prevenção para se proteger do vírus do individualismo.
Trabalho infantil existe sim. Trabalho aliado à aprendizagem. Um trabalho que muitas vezes é uma brincadeira bem divertida na companhia dos pais, irmãos ou amigos. As crianças ajudam a plantar e colher as cenouras e batatas que um dia serão seu almoço ou jantar. Elas aprendem a pescar no rio da vila o peixe que ajudarão a preparar para a próxima refeição.
Pode até parecer que os avanços foram um retrocesso ao mundo de predominância rural. Longe disso. Sim, muitas atividades do campo são feitas no “quintal” dos espaços urbanos. Mas a vida nas vilas cooperativistas não tem nada a ver com o trabalho braçal enfadonho de outrora. A inteligência artificial é nossa aliada nas mais variadas atividades de produção e consumo, educação e lazer. Nossas crianças aprendem cedo a usar linguagem de programação. Elas têm uma facilidade enorme em construir e manusear robôs de todos os tipos.
Ninguém mais passa décadas repetindo diariamente as mesmas rotinas de trabalho. Todos têm a oportunidade de trabalhar em qualquer uma das atividades da vila. No mês de dezembro, cada morador envia sua declaração de interesse em um conjunto variado de atividades profissionais e de novos cursos que pretende fazer ao longo dos próximos doze meses. Um sistema inteligente, chamado Cooperação, organiza uma planilha mensal para cada morador. Temos muito tempo livre para brincar com nossos filhos, para atividades físicas, para o lazer e para explorar a cultura.
Saiu de moda há anos o culto às celebridades. Muitos moradores na vila são bons no futebol ou em tantos outros esportes coletivos ou individuais. Temos nosso próprio “estádio”. Não faltam campeonatos locais para cada um poder mostrar que é bom de bola. Temos roteiristas, produtores, diretores, atores e atrizes de primeira linha dentro da vila. Em nosso cinema, rodam frequentemente filmes produzidos por nós mesmos ou pelas vilas vizinhas. Não faltam espetáculos das mais diferentes artes para animar nossos momentos de lazer. Pessoas de todas as idades se revezam nas plateias e nos palcos.
Dinheiro se usa muito pouco nos tempos atuais. Pelo menos não da maneira que a gente conhecia em 2020. O sistema Cooperação credita o valor devido em nossa conta pessoal assim que concluímos a tarefa laborativa do dia. Quase tudo de que precisamos se consegue nas lojas de distribuição da vila. São artigos de qualidade produzidos pelos próprios moradores nas áreas agrárias ou industriais que envolvem as torres da vila. O scanner das lojas, em comunicação direta com o sistema Cooperação, permite a atualização imediata do nosso saldo ao sairmos com nossas “compras”.
A vontade é grande de ficar por aqui mesmo. Mas também é grande a vontade de viajar de volta e contar esse sonho...