Madrugadas turbulentas

Mente em repouso, visão atenta pelos olhos que recusam o conforto de ceder à exaustão. Sirenes estrondando alarme e cintilando um vermelho ofuscante pelas ruas e becos. No aroma da fumaça fresca pulsando meus pulmões e uma sonolência presente, mas nunca permanente. Os vultos estão brigando e gritando uns com os outros no lado de fora, presos em discussões apáticas e intermináveis.

Em cada noite, interrompendo as tentativas de me desligar dos pensamentos e dormir até que eu possa por eu mesmo reencontrar as estrelas e me restabelecer na gravidade que me repulsa para longe dos astros, das constelações e de meu lar celestial que jaz agora sem minha presença em todo o seu espaço vazio e desocupado.

Tenho caminhado em fraqueza e falta de certezas para me definir em um novo lugar, uma nova oportunidade e numa nova maneira de recriar os antigos passos em diferentes condições. Pois não há como acreditar que pertenço aqui, é impossível dizer que não esperei muito mais por tão pouco.

Nos apagões espontâneos e súbitas clarezas como breves bênçãos as quais me revelam como um ser recuperável e sujeito às mudanças que me trarão de volta para a minha paz. E ainda assim, sei de tudo o que se esconde em segredo em meu finito e particular universo. Possuo o conhecimento de mim como um inteiro, mas de qualquer forma, nenhuma solução é uma alternativa alcançável no fim de todas as conclusões.

Reajustando-me conformado ao mesmo esquema de encontrar e perder as razões que edifico. Devorando as horas de minhas madrugadas num ciclo vicioso de permanecer acordado numa turbulência irracional e invencível. Sou o meu tempo, expirando e restaurando segundos consumidos num sonambulismo desenfreado. Entorpecido e confidente, um organismo que não conhece silêncio na mudez de sua voz ou no som de suas palavras.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 30/04/2020
Código do texto: T6933590
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.