Madrugadas turbulentas
Mente em repouso, visão atenta pelos olhos que recusam o conforto de ceder à exaustão. Sirenes estrondando alarme e cintilando um vermelho ofuscante pelas ruas e becos. No aroma da fumaça fresca pulsando meus pulmões e uma sonolência presente, mas nunca permanente. Os vultos estão brigando e gritando uns com os outros no lado de fora, presos em discussões apáticas e intermináveis.
Em cada noite, interrompendo as tentativas de me desligar dos pensamentos e dormir até que eu possa por eu mesmo reencontrar as estrelas e me restabelecer na gravidade que me repulsa para longe dos astros, das constelações e de meu lar celestial que jaz agora sem minha presença em todo o seu espaço vazio e desocupado.
Tenho caminhado em fraqueza e falta de certezas para me definir em um novo lugar, uma nova oportunidade e numa nova maneira de recriar os antigos passos em diferentes condições. Pois não há como acreditar que pertenço aqui, é impossível dizer que não esperei muito mais por tão pouco.
Nos apagões espontâneos e súbitas clarezas como breves bênçãos as quais me revelam como um ser recuperável e sujeito às mudanças que me trarão de volta para a minha paz. E ainda assim, sei de tudo o que se esconde em segredo em meu finito e particular universo. Possuo o conhecimento de mim como um inteiro, mas de qualquer forma, nenhuma solução é uma alternativa alcançável no fim de todas as conclusões.
Reajustando-me conformado ao mesmo esquema de encontrar e perder as razões que edifico. Devorando as horas de minhas madrugadas num ciclo vicioso de permanecer acordado numa turbulência irracional e invencível. Sou o meu tempo, expirando e restaurando segundos consumidos num sonambulismo desenfreado. Entorpecido e confidente, um organismo que não conhece silêncio na mudez de sua voz ou no som de suas palavras.