Flagelo baiano
Se o canto do irapuru passar despercebido aos meus sentidos, então, esqueça! Esqueça minha pele sedosa, meus lábios sapoti, meus olhos amêndoas, meu corpo caju e minhas mãos bobas. Ô, meu rei, venha desmontado de convicções, egocentrismo e incertezas!
Tende piedade deste coração órfão de mágoas, faminto de alegria e carente de surpresas! Ouve a minha voz desafinada que sussurra por sorrisos largos! Não estou mendigando o paraíso, nem o jardim do Éden, apenas, um pedacinho de humor.
A minha alma anda divagando nas veredas da Catedral da fé e pagando promessas no bodinho Pão de Açúcar. Tenho medo de perder minhas emoções no Delta do Parnaíba e ficar feito boneco de Olinda em procissão. Venha pra mim sem eira nem beira, com baú de Ouro Preto ou carvão; mas traga a tranquilidade do Vale da Lua.
Chega de chorar no Pelourinho e pedir a Senhor do Bonfim um tantinho de Graça! Se for preciso, irei para Sapopema, a pé, resgatar o amor-próprio, na cachoeira do Messias. Se não vier armado de sossego, vá pra Pampulha ou Tietê tomar banho no rio!
De qualquer sorte, vou embriagar-me de água de côco; matar a fome com acarajé, cansar a mente com as brumas do mar, e farei da sombra do coqueiro a minha morada. E, não adianta me salvar, pois quero morrer atrás do trio elétrico, sufocada pelo calor humano e triste com a chegada da quarta-feira de cinzas.