Mente sã (bviw)

Uma calma...! Ela lembrava-se de coisas triviais: Roupas, valores, pessoas, nomes, idades, acontecimentos - com detalhes de hora, dia, mês e ano. Dava gosto ouvir o seu vale a pena ver de novo. Fico imaginando se essas recordações preci(o)sas sobreviveriam às senhas, códigos de hoje.

Diz a ciência que a maioria das informações retidas na mente se perdem um dia. O critério do descarte não se sabe. O motivo é a necessidade de acomodar as novas informações. Do aprendizado formal, supõem que permaneça o que nos gratifica; como se fosse algo prazeroso para amenizar a nossa sobrevivência. Quanto à Maria e sua memória memorável, era analfabeta. Falava menos de si e mais dos amigos. Seu sorriso largo passava longe de rancores. Volto a imaginar se esse modo invejável de viver sobreviveria a essa escassez de lembranças boas - a maioria delas descartadas em favor de sonhos incertos.

E as experiências ruins? Ao contrário da Maria, nos tornamos terápico-dependentes. E aí mais um enigma da ciência me vem: os invisíveis, os mendigos, os inaudíveis de hoje... como conseguem esquecer e suportar o mar de nãos que recebem num só dia? Que os cientistas descubram ao menos um paliativo do tipo "Precisa esquecer? Então, esqueça". Aperte o delete.

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 28/04/2020
Reeditado em 28/04/2020
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