Trigésimo nono dia

"A quarentena de um poeta"

Trigésimo nono dia:

Uma infeliz aglutinação, comunavírus, me envergonhara naquele dia de tantos fogos no ar.

O chanceler deixara o mundo de saia justa, uma situação constrangedora difícil de contornar. Em contrapartida eu dissera outra: "minissaia".

Doar por vontade própria aos necessitados era uma prática comum e as pessoas confundiram as atitudes tomadas pelos conservadores com o caminho para o utópico comunismo. Uma pandemia tentara fazer a direita se unir à esquerda a formar um único tronco capaz de saltar sobre o óbice que bloqueia a vida do ser humano.

Recebera conselhos de um amigo para que me afastasse das polêmicas e que eu deveria escrever somente sobre o amor mas respondera que escrevera sem mágoa, mas a criticidade faz parte da minha obra, o meu estilo barroco mostra a assimetria do mundo, porém minto, minto tão completamente que minto a dor que deveras sinto como diria Fernando Pessoa.

Eu dissera que a escrita estava a ser uma terapia a quebrar a minha ansiedade que sempre tentou me devorar e no momento de guerra ela estava mais acentuada. Eu trocara os trinta e cinco anos de comunicações pela comunicação e me tornara um escritor para que eu controlasse a aflição e Deus me dera a musa e o senso crítico a me fazer viajar no meu mundo latente.

Traçar sobre o amor dependera da liberdade para que as aves, o mar e a mata me inspirassem a cantar.

Todavia, o meu quintal, o meu jardim e o beija-flor que os visitara todas as manhãs eram também um fonte de iluminação:

Doce Amada,

O Beija Flor paira no ar e com suas asas aceleradas

colhe o néctar para restaurar suas fontes de energia.

E eu queria ser como este pássaro que todos os dias busca o doce como se fosse um prazer o seu corpo fortalecer.

Meu Beija-flor

Beija Flor, que pairas no ar

De penas tufadas de toda cor

Colhe da mais linda flor o néctar

E colore o dia do meu Amor

De cores repletas como os meus amores

De visão acurada que apercebe flores

Uma força nas asas tão peculiar

como sua destreza ao se alimentar

Beija-flor, meu pássaro colorido

Quando voas lentamente para trás

Observas o vergel florido

E desejas o sumo mais e mais

Beija-flor, ah se eu fosse como você

Buscaria a cada manhã

O suco da mais linda flor

E poderia abastecer os lábios do meu Amor

Conte-me então qual é o segredo

Das batidas do seu coração

Ensina-me a voar

E a extrair o mel da paixão

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 24/04/2020
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