Trigésimo sétimo dia
"A quarentena de um poeta"
Trigésimo sétimo dia:
No trigésimo sétimo dia da quarentena, suspenso entre as duas pilastras da varanda eu vira Maria atravessar o quintal ir em direção a um robô que lavara nossas vestimentas. Havia alguma coisa boa no ar, eu a via tão bela sem as suas unhas pintadas.
A distância do salão de beleza não a modificara, sua pele estava a receber o banho do sol da manhã e seu perfume era como se ela se alimentasse de flores.
A mecha branco do seu cabelo combinava com o grisalho dos meus. Era tão natural o seu encanto que tive a certeza que Maria Alice fora feita pelas mãos de um artesão que se inspirara numa flamboyant.
Ela me olhara a retirar da bacia de roupas enxaguadas pares de nossas vestes e os pendurara lado a lado no varal. Eu me transportara para um lugar distante na Serra do Caparaó onde houvera bastante desafio. Um lugar frio que seguíramos juntos ao topo onde podíamos admirar nossos pés descalços.
Eu estivera sempre ao seu encalço devido a sua beldade e mesmo com o passar dos anos ela que determinara quando a se insinuar como uma leoa a admirar a juba do velho leão.
A mulher sem maquiagem mirara as minhas cãs e eu dissera que elas cobriram o tempo, mas não o meu
sorriso e o riso que soara grave, que meu andar arrastado denunciara
a minha idade, porém não me impedira de alcançá-la. Eu continuara a dizer que o meu coração fora dilatado a ter mais espaço para o amor que deixaria saudade se acaso um dia se for.
Maria se aproximara e se jogara em meu colo encharcada de sabão que formou espumas na rede a qual se convertera em banheira. Eu não vira a hora de voltar para o nosso ninho, livre dos estrondos da guerra.
Coisa de pele
A voltar para o nosso ninho
Sob os pingos grossos no caminho
Que anuncia a tempestade
Cedo o meu corpo
E a chuva me encharca
Sem embargo, corro
Socorro a minha pressa
Pra te encontrar
E a te achar seca,
Coberta por um penhoar
Inundo o seu corpo
Que se despe a me incitar
Coisa de pele este desejo
Habituei-me com seu cheiro
Que encrua
E não há salseiro que o destrua