ESSA MULHER QUE EU PROCURO...
Caberá definitivamente no turíbulo da minha incandescente vida e, na pulcritude de seu corpo indevassável, depositarei os meus últimos e inflexíveis sonhos.
Dela, eu farei prontamente uma divindade, um relicário místico.
E a entronizarei na minha real basílica de amor, onde em silêncio, juntaremos as nossas preces teimosas, que serão arremessadas ao imponderável norte.
Quero-a como a minha última e definitiva paixão, e que, em suas mãos traga apenas o necessário carinho de mulher madura e fagueira, como se fora o seu último e belo troféu a ser ofertado.
Pela reciprocidade de direito e de afeto a levarei suavemente em minhas mãos, como se fosse uma cesta de amoras silvestres, para depositá-la mansamente na minha floresta de anseios perpetuados.
De seus lábios eu quero de forma insistente o silêncio de beijos possessivos, para quando nossos hálitos se misturarem num ofegante frenesi de amor, nos prostrar vencidos ante a carne em frêmitos de prazeres.
Se for morena, terá que necessariamente ter os seus cabelos pretos, compridos e lisos, para nas horas incertas da vida, poder afagá-los com um desejado carinho se for preciso.
Mas se for loira, que não seja de farmácia, loira falsa, será obrigatoriamente loira nórdica, e que suas melenas resplandecentes tragam-me de pronto a lembrança de um furioso trigal maduro.
Uma ou outra, eu exijo que seja existencialmente mulher e possuidora da leveza da garça marinha, afável nos gestos, mansa como recém-nascida gatinha, para que eu possa aconchegá-la e murmurar-lhe entre um beijo e outro, palavras ternas de amor o verdadeiro idílio de todas as almas.
E que saiba sorrir despretensiosamente e preferencialmente para mim, a fim de vê-la feliz, e assim, inspirar-me em seus lábios e compor canções inefáveis como o último soluço de um amante.
E, de repente, fazer pousar em seus lábios lânguidos e úmidos o ósculo santo, o caminho voraz e inevitável da sedução final, mergulhados num êxtase de amor o mais prazeroso possível.
Procuro todos os dias o seu vestígio, ensimesmado caminho pelas ruas e não diviso as suas pegadas, assombra-me o fato de pensar que essa mulher inexiste.
No entanto ela perambula pelos meus sonhos, ora como fada, ora como um súcubo ardente e pecaminoso, enlouquecendo os meus indesejáveis pesadelos.
Se ela existe nos meus sonhos é porque dormita no meu inconsciente e, se ali está, é porque a apanhei na realidade dos meus dias.
Ordeno-a que saia da minha questionável inconsciência, onde se estabeleceu como trânsfuga mulher e desponte na realidade da minha vida, para assim fazer-me companhia e vivermos a mesmice do bem-querer.
Concluindo: Se tu estás nos meus sonhos, meu sonho és tu imaginária mulher!
Move-te languidamente em minha direção e te transforma num súcubo tentador, onde eu possa abismar os meus sonhos loucos e reais.