POR UM FIO
Quando temos o entendimento de que somos um, vem, também, a dor no peito de saber que somos bárbaros, longe da humanidade pretendida. Ou seria isso um equívoco, pois sequer conseguimos entender que pássaros, peixes, céu, ar, tudo faz parte de um só corpo cósmico pulsando em vida criativa?
Dói no peito a indiferença pela dor alheia, pelo mar que agoniza, pelo fétido rio de onde vem a água que bebemos.
Dói no peito perceber que não adianta dizer “nós e eles”, pois não existem “eles”. O que estamos testemunhando neste tempo sombrio denuncia a parte obscura de que somos formados.
Os animais brincam, a árvore canta, o rio murmura, a pedra se enche da energia de, há muito tempo, simplesmente ser. Só o homem permanece oco. Cego e arrogante, desconhece a própria ignorância da divina partícula que o constituiu.
Somos um e tem gente defendendo o extermínio: de gente, de bicho, de planta...
Desperta, pois, para a perenidade de que tu és feito!
Acorda a beleza que há em ti, pois ela é combustível para movimentar os que vêm vindo.
Despreza o medo enquanto é tempo e olha com ternura para o que o mundo se tornou.
Protege a vida do teu semelhante. Cuidado! Ela é o frágil fio por onde corre a tua existência.