Atormentador

É verdade que nossas mãos já não se acariciam, nossos braços já não se enroscam num abraço confortante e que nossos lábios não tocam nos rostos e bocas de quem tanto amamos, e o quão longe é estar a dois metros de alguém.

Mas nunca torcemos tanto um pelo outro, nunca quisemos tanto bem, um ao outro, nunca tantos lutaram contra um inimigo tão pequeno em busca de um objetivo tão grande.

Nunca a tecnologia foi tão festejada e o vírus talvez tenha nos ensinado como nos aproximarmos virtualmente para o que realmente importa.

Mesmo longe, nunca fomos tão próximos, nunca tantos lutaram por outros tantos, e aprendemos verdadeiramente, que os heróis usam máscaras e uniformes brancos.

Nunca tivemos nossas fragilidades tão expostas, mas também nunca tivemos nossa humanidade e solidariedade tão à prova.

Um vírus tornou o mundo tão pequeno, talvez reduzido ao seu mundo microscópico, e a globalização ruiu num grito único, destruída por incertezas, medo e dor.

Um minúsculo Ser calou a arrogância de algumas nações e reafirmou a fragilidade de outras, e ainda que em barcos diferentes, todos enfrentarão no mesmo mar, a mesma tormenta, e só podemos torcer para que tanto os iates quanto as jangadas não naufraguem nesse mar.

Leir Rodrigues
Enviado por Leir Rodrigues em 19/04/2020
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