Trigésimo terceiro dia
"A quarentena de um poeta"
Trigésimo terceiro dia:
Eu ouvira uma voz que dizia:
- Antes da guerra o país estava voando.
Esta frase não era coerente com as dificuldades que a minha classe passara. Lembrara que vários produtos de consumos nossos tiveram os preços elevados, mas os escravos do consumismo gastaram muito dinheiro e ajudaram a movimentar a economia a não se importar com o custo da carne, da gasolina, da luz e outros. Não importa os valores altos, o brasileiro sempre dá um jeito de degustar do churrasco, de exibir seu automóvel e não viver na escuridão.
Um pássaro não poderia ter levantado voo se há anos sua asas estavam quebradas, é necessário ter humildade para dizer que o processo de recuperação é de longo prazo.
Outras frases jogadas fora me fizera comparar os lugares proibidos com cenas de um crime onde o homem não tem o direito de ir e vir, pois pessoas não essenciais nunca devem ser permitidas no local e um nome composto com seu adjunto, estado de sítio, me envergonhara.
O direito de locomoção é de todos no tempo de paz quando se pode frequentar shopping, almoçar com amigos, assistir aos jogos de futebol, pular carnaval, disputar maratonas, e tantas idas e vindas.
Todavia, era um momento de guerra que não se podia se exibir, pois o efeito da teimosia poderia ser fatal e muitos preferiam arriscar suas próprias vidas a caminhar entre as evidências.
A metáfora do divórcio consensual me mostrara o sentido conotativo da mensagem do chefe que executara o rabiscar da caneta politicamente a criar a ruptura do processo que iniciara de forma conforme.
Enquanto se perderia tempo em conhecer o inimigo para descobrir a sua fraqueza, o mundo já o conhecia de fio a pavio e ele estava a se fortalecer, pois a nossa fragilidade estava cada vez mais explícita.
Um coisa que antes do confronto passara pela cabeça do novo comandante do socorro era a frieza da escolha da vida e eu não acreditara que em nenhum momento deveria haver algo tão abstrato capaz de substituir a perda financeira a formar mais um triste paradoxo.
Em tempos remotos quando a guerra era de travesseiros eu jamais imaginara perder meus direitos e ouvir um Chefe do Estado dizer:
"Abrir a guarda é um risco que eu corro : se agravar vai cair no meu colo".
Cidade sitiada
Outrora havia retângulos de relva
Onde uma esfera a passear
Pelos pés das feras
Era uma rainha da selva
Ouvia-se o som do apito
E da pelota, o grito
Não se sentia a fobia
Percebia-se a calmaria
Havia Perdidos no Espaço
Uma lua de queijo
O namorar sem o beijo
E o maço de cigarros
Hodiernamente, eu vejo:
Os tetos sem gramas
O cortejo à grana
E o sitiar em decreto