A BOLHA

Antigamente brincava-se naturalmente de fazer e estourar bolhas de sabão.

Construir uma bolha era uma arte.

O riso ecoava dentro daquela bola límpida e cristalina.

Ela voava, esvoaçava...

Saltitantes e inebriantes todos seguiam seu percurso.

De seu desabrochar nascia a esperança.

Um prazer eternizante.

Hoje, a bolha é sólida e incognitiva.

Cheia de suas próprias razões.

Não há nada de ideal nela.

Apenas percepções falsas da realidade.

Um mundo em si mesma.

Não há racionalidade.

Apenas verborragia.

A bolha de outrora dava alegria de ver e viver

A bolha de agora estremece.

Se impõe pela força;

Restringe o livre pensar e opinar.

Não há sujeito, sujeita o outro.

Quer homogeneizar.

Não voa, enraíza sem aprofundar.

Ah que saudade de brincar!