Trigésimo dia

"A quarentena de um poeta"

Trigésimo dia:

A fazer trinta dias de isolamento a ver no céu um pássaro negro voar sobre a lua, vira o retrato da ilusão daquela que comanda o mar e as minhas emoções. O artista não pôde pintar os seres da terra, somente os que se passam no ar como as nuvens, os pássaros, o sol, as estrelas e a lua.

Os aviões não trafegaram sobre as quebradas, as pipas não bailaram mais , os balões não se rebelaram e o homens não voavam do monte.

Voltava-se a idade da pedra no espaço. No lugar das aves gigantes que em tempos passados assustaram a humanidade, houvera os abutres que aguardavam os corpos.

A fotografia estava a ser mais bela a contradizer o que se retratava do alto pelas aves de rapina que com suas extraordinárias visões apuradas viam a terra a ser mutilada.

Os verdadeiros donos de nossa terra não puderam voar para escapar do massacre de outro invasor e os que sobreviveram viviam isolados na mata com a proteção dos seus seres espirituais. Houve um nativo que desistira da caça e quisera conhecer o mundo virtual e consumir vestimentas, contudo fora contaminado pelo preconceito que o pôs na linha de frente a tomar uma flechada no peito a morrer sem o direito de ter o ritual da clemação.

As ervas da mata foram poupadas e ainda havia os animais que sustentaram o povo e hoje o homem branco que tanto desprezou o indígena iria nu ao encontro do lugar onde nem o inimigo invisível queria penetrar.

Um menino índio sonhara que voava sobre a grande porção de terra de propriedade de seus ancestrais:

O sonho do menino Brasil

Um mundo de fantasia onde do céu nas asas de jaçanã

O curumim ouviu a profecia

Que haveria um lugar plano e alto

Onde os homens do planalto não desejavam saber do saber

E um pássaro mostrou ao curumim depois do seu voo rasante

Sobre um pampa gigante

Iluminado pelas estrelas

Uma festa de colarinhos brancos

Que infesta o orgulho da nação

Revelou os segredos de Brasília, a terceira capital

Que deveria ser protegida pela invasão

Mas o que se viu foi o doente fato social

O candango construiu o berço da corrupção

E longe dos sonhos dos cabeças amarelas

A jacana jacana pairava sobre a solidão do agreste,

A região do nordeste longe do centro-oeste,

E via a vida seca e a dor a chamar a chuva pra banhar o sertão

Enquanto o negro no Quilombo dos Palmares estava a aclamar a sua libertação

É uma utopia o meu Brasil como no tempo de menino

Sem serras na mata e sem sinos de ouro

A mamata era farta na mãe natureza, pois havia dos rios a potável pureza azul de anil

Que banhava as vergonhas e matava a sede do gigante chamado Brasil

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 15/04/2020
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