Bênção de Vô

Hoje acordei pensando em ti

Entrelaçada entre lembranças...

"O senhor tosando os cavalos

Fazendo arreio

Concentrado com as tiras de taquara

Para fazer os cestos

Que se encheriam de milho

Com os mutirões na colheita do feijão

E os passeios de charrete..."

E tantos outros momentos bons

Minha meninice tão feliz

Desbravando as terras do bom José

E olha que tentaram falar mal de ti...

Nunca acreditei

Como poderia alguém com olhos lindos

Ter alguma maldade?

Me perdia na imensidão azul do teu olhar

E quando teve que vir embora

Não senti toda a tua tristeza

Pois, com certeza, era maior que a minha

Mas, estava junto de ti

Meu coração chorava também

Quando percebi que a porteira seria fechada para sempre

Pelo menos, para nós...

Nunca mais os pés de macieira

Nem o laguinho dos gansos

As pedras tão lindas, ficariam escondidas na terra

Não haveria mais bolachas de mel

Os cavalos não teriam mais o espaço de antes

A vida perdia um pouquinho do sabor da felicidade...

Enquanto teus pés iam pelos breves cômodos da nova casa

Teu olhar ia se entristecendo mais e mais

E assim, meu bom José, o tempo roubou teu sorriso

Deixou um peso maior em teus ombros

Levou tua saúde e tua memória

Talvez, foi para aliviar tua dor

Ou te deixar preso no tempo em que era feliz...

A saudade do senhor, hoje veio me visitar

Creio que seja pela coincidência da tua partida

Com meu aniversário que se aproxima

Meu choro, vô, tem alegria e tristeza

E hoje só há o cinza no céu

A imensidão do teu olhar está atrás das nuvens.

"Bênça Vô".