Ao Romper da Madrugada

AO ROMPER A MADRUGADA

(DO ANO NOVO)

Solidão, solidão, solidão.....

O relógio da sala completa as derradeiras badaladas.

Ao longe, brilhos no céu e um foguetório no ar anunciando a entrada de um novo ano.

Por um breve momento minha memória me prega uma peça e me vejo nitidamente no salão das “Perdidas Ilusões”, brindando com uma taça de champagne virtual, o Reveillon, ao lado de uma companheira inseparável.

No peito um coração oprimido por dúvidas e mais dúvidas sobre as sanhas do tempo e as contradições da alma.

“Solidão insensata, campo de batalha”.

A noite corre em lenta agonia e na tela da mente as imagens passam e se sucedem numa repetição interminável. “Uma história baseada em fatos reais” me persegue a cada segundo.

O tempo paralisado em alguma dimensão estranha é como um mestre de cerimônias, estático e impassível que anuncia um ciclo interminável.

A janela do quarto, apenas um quadro desbotado na parede, trazendo imagens fugidias, em movimento, de um mundo cada vez mais distante dos meus sentidos flutuantes.

Eu, reduzido a um ponto perdido no nada, almejo por uma parceira com quem possa dividir minhas agonias e minhas alegrias.

Um banquete pobre, frugal, está posto, para deleite de comensal nenhum. Risos, conversas, tinir de copos.

Um ruído crescente vai se sobrepondo ao silencio tirânico que até então reinava absoluto. Os convidados vão chegando em grupos e em breve o grande salão oval está com sua lotação esgotada .

Conversas fúteis, máscaras, jogos sociais e ao lado de cada convidado permanece, sorrateiro, o espectro da solidão.

Como definir a solidão? Ela nos ataca no silêncio da noite ou no centro do salão, com orquestra e tudo.

A solidão é como uma dor opressora no peito da alma. É a falta de alguém com quem possamos dividir nossos anseios, angustias, medos, afetos e prazeres.

É a necessidade de confiar a outrem de forma total nossos mais íntimos segredos.

É a vontade de abrir sem medo nossa intimidade mais sagrada , de corpo e alma.

A solidão nos deixa vulneráveis e carentes, propensos a devasssar nossas defesas às imagens que fazemos das pessoas e não das pessoas em si.

Queremos crer quando em solidão que em cada esquina vamos nos deparar com uma princesa encantada.

Nossa essência se dilui em uma vontade louca de agradar e doar de maneira temerária nosso mais sincero “eu”.

A cura para a solidão é um amor verdadeiro que aparece quando nossa alma prostrada, se entrega aos desígnios maiores e misteriosos do Universo .

Na rendição de nossos egos, na calma do ”fundo do poço” , longe da turbulência dos movimentos efêmeros, é lá que nossa “alma gêmea” espera eterna e pacientemente para o encontro definitivo.

O grande amor de nossas vidas nos encontra quando deixamos de procurá-lo. “PORQUE ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS”.

João Drummond

João Drummond
Enviado por João Drummond em 12/10/2007
Reeditado em 12/10/2007
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